O Campus Tecnológico de Monterrey - México - realizará, em agosto do próximo ano, o Congreso Internacional Utopía: espacios alternativos y expresiones culturales en América Latina. Há várias décadas não se tem notícia de eventos acadêmicos com temário desse tipo. Um dos últimos dos quais tenho lembrança data da década de 1980.
Seria um novo sinal dos tempos? Um sintoma do crepúsculo do capitalismo, como às vezes se lê em matérias recentes? O anúncio de uma revitalização do pensamento subsequente ao grande extermínio promovido no ocaso do século passado? Ainda é cedo para prognosticar mas, de qualquer modo, alguma coisa diferente anda pelo ar, e não são apenas os virus malignos.
Quem vem de longe sempre fica com um pezinho atrás diante dessas iniciativas. Antes de tudo, porque sabe que utopia não se fabrica na escola, ainda mais no ambiente universitário atual, mais parecido com um crematório de idéias e esperanças. E sobretudo porque não ignora como é fácil esvaziar os sonhos para vender suas cascas secas no mercado. Com que cara os antigos utopistas assistiriam ao esfacelamento das suas fantasias, se em sua época tivessem inventado uma máquina capaz de projetar a realidade do futuro!
Mas o fato é que o congresso citado promete ressuscitar aqueles velhos fantasmas. Alguns deles, principalmente os latino-americanos, figuram lá no cartaz promocional do evento, piscando sedutoramente ao expectador. Dentre os que pude identificar (e não consegui copiar neste post) estão Che, Bolivar, Garcia Marques, Neruda e um único brasileiro - Paulo Freire. Todos recentemente sepultados pelas avalanches filosóficas desconstrutivistas, juntamente com a legião que vem de Thomas Morus a Guevara. Reviverão?
Não é o caso de ser cético, apesar das matérias anteriores deste blog. O ceticismo tem lá a vantagem de acautelar os espíritos demasiadamente apaixonados e voluntariosos. Levado às últimas consequências, porém, coloca a vítima mais facilmente ao alcance do seu algoz. A utopia, ao contrário, reacende o desejo, a fonte vital do animal humano.
Nos fizeram acreditar que só há dois mundos imagináveis: a utopia norte-americana ou a utopia talibã. A primeira, como disse Baudrillard, já se realizou em nome do progresso e com ele mesmo promete afundar. É pegar ou largar. A segunda ainda está por se fazer, apresentando-se como uma nebulosa regressiva. Deus nos livre dela.
E nesse interregno estamos. Que o congresso mexicano seja de fato um sinal dos tempos! Por falar no próximo 2010, não custa nos desejar alguma utopia. Além de muita merda, como se cumprimentam os atores e as atrizes antes do espetáculo.
http://www.itesm.mx/va/catedra/utopia/
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