Há pessoas que não combinam com o espírito natalino, das quais se deve, rapidamente, desembaraçar-se para entrar no clima festivo.
Uma dessas figuras é o cético citado em post anterior, cujo nome ninguém acertou. Ou melhor, que ninguém quis correr o risco de nomear, talvez por desinteresse no assunto, ou ainda, quem sabe, pela dificuldade de escolha, já que hoje existem céticos demais na terra, todos cabíveis no figurino criado.
O personagem em foco é o pai de todos eles: Michel Foucault. Ao menos, conforme a imagem delineada pelo historiador Paul Veyne no livro Foucault: o pensamento, a pessoa (edição francesa de 2008 e portuguesa em 2009). Veyne já havia escrito, há mais de 20 anos, outro ensaio sobre o mesmo personagem: Foucault revoluciona a História.
Algumas idéias deste livro foram retomadas no ensaio recente, que é uma espécie de homenagem ao amigo, com quem ele conviveu durante várias décadas. É certo que Veyne parece forçar a barra ao analisar as principais linhas do pensamento de Foucault, em compensação, sai-se muito bem ao retratar aspectos pouco conhecidos da vida e da intimidade do filósofo que não se julgava como tal.
Como, por exemplo, da sua frustração por não ter sido de fato compreendido pelos historiadores (imaginem o que poderia dizer dos historiadores brasileiros, em particular, daqueles que se dizem foucaultianos); do seu engajamento político, que se orientava não por verdades, mas por desejos ("Em política, decida-se o que se quiser, mas não se disserte/ Não vos direi: eis o o combate que devemos travar, porque não vejo nenhum fundamento para poder dizê-lo (...) se quiserdes combater, e consoante o combate que escolherdes, ai vereis onde se encontram os focos de resistência, onde estão as passagens possíveis"); do que pensava do próprio pensamento: "Escrevo para me transformar e não pensar a mesma coisa que antes. É sabido, o criador é criado pela sua obra e pensa tudo que ela pensa, mas é dizer pouco ainda: a salvação reside na morte do homem pela escrita - que o despersonaliza - e numa perpétua fuga em frente".
São estas algumas pérolas de sabor foucault que veyne nos traz. Mas que não servem para o natal, data que exige presentes mais caros. Se é assim, descartemos foucault, sigamos em frente.
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