Na semana passada tivemos o último encontro da disciplina de pós-graduação em História (na Unesp-Assis), cuja temática foram as mutações contemporâneas relacionadas ao advento da cibercultura. Como havia anunciado o programa do curso neste blog, devo ao leitor um balanço, ainda que rápido do que foi discutido e o que pudemos concluir - é claro, provisioriamente.
A segunda parte da disciplina, sob minha responsabilidade (a primeira foi dada por Tania de Luca) teve como reflexão central a condição humana em nosso tempo de mudanças aceleradas resultantes do desenvolvimento tecnocientífico e sua aplicação na vida cotidiana. Questão evidentemente filosófica, mas também de alcance histórico, sociológico e antropológico.
Não será preciso dizer que a obra Condição Humana, de Hannah Arendt foi o ponto de partida e, sem dúvida, também o de chegada de todo o debate. Neste seu livro, publicado originalmente em 1958, se encontra uma elaboração teórica substancial e quase profética sobre o destino do homem em nossa época dominada pelas maravilhas tecnológicas, que nos libertam e, ao mesmo tempo, nos alienam do mundo.
Os autores analisados na sequência, ainda que não se confessem herdeiros do seu pensamento, confirmam muitas das hipóteses desalentadoras daquela teórica judia. Sob perspectivas diversas, demonstram a predominância, na atualidade, da tecnologia sobre a ciência, e do utilitarismo sobre o pensamento crítico. E é nas brechas desse descontrole que alguns buscam oferecer novos argumentos éticos e políticos compatíveis com os desafios enfrentados.
Lemos e discutimos, ainda, as teorias do transumanismo ou do pós-humanismo, que tem em Pierre Levi o seu principal representante. Embora sedutoras, se pôde notar como tais idéias revelam seu estreito compromisso com os princípios liberais, individualistas e competitivos capitalistas. Trata-se, além disso, de uma utopia formulada no interior das principais empresas de exploração da tecnociência que, a um só tempo, cuidam de criar e irradiar tal ideologia.
Encerrado o curso, restou porém o sentimento esquisito da inutilidade das nossas longas reflexões para os cursos de pós-graduação das atuais tecnociências humanas. Pois o que importa para estas são apenas os produtos rápidos do despensamento.
Ótimo texto, Antonio Celso.
ResponderExcluirQuanta intimidade com as palavras!
Se puder, visite meu espaço, ainda prematuro. Será bem-vindo.
Andréia.