quarta-feira, 23 de junho de 2010

Serra na televisão: sem roda e sem vida

Não sei se vocês viram a entrevista de Serra no programa Roda Viva, mas eu vi. É bem verdade que foi uma experiência torturante aguentar seu tom monocórdico, sua fala prepotente e sua antipatia. Apesar disso, consegui chegar até o fim, embora me indagando a todo o momento se a minha reação negativa diante do candidato resultava do mero preconceito, da paixão irracional ou outras coisas que tais. Passados dois dias, pensados e pesados os prós e contras, concluo que não. O cara é mesmo ruim.
Prá começar, o programa não foi transmitido ao vivo, o que pode levar a supor que tenha sido editado. Além disso, os sabatinadores, incluindo o próprio mediador - Heródoto Barbeiro -, pareciam fazer questão de levantar a bola pro Serra chutar, bem no clima da copa do mundo. Mesmo assim, diversas vezes o tucano respondeu aos amigos com irritação e impaciência.
As perguntas foram bastante convenientes ao entrevistado, girando basicamente em torno de temas contábeis. O candidato aproveitou para dar aulas de economia, já que se considerada economista. Nem por isso foi capaz de apresentar um projeto econômico alternativo convincente. Saiu pela tangente no que diz respeito às privatizações, especialidade do seu partido, e deu a entender que vai estender a malha de pedágios exorbitantes pelo país. Quanto às políticas sociais, comprometeu-se a ampliá-las, mas nós sabemos muito bem como o PSDB trata disso. Quem quiser que se engane. 
No capítulo da política externa, repetiu as críticas surradas à atual diplomacia brasileira. Qual a sua proposta? Nada disse, nem precisava: leia-se, nas entrelinhas, o alinhamento sem tirar nem por aos interesses do grande Império.
E sobre educação? Reiterou as falácias que anda propangandeando pela televisão: ênfase no ensino técnico (que o governo federal tem incentivado de maneira muito mais substancial), duas professoras (sendo uma estagiária) no primeiro ano do ensino fundamental (medida apenas cosmética), bônus para professores e funcionários das escolas com melhor desempenho (política duvidosa, ineficaz e superficial). Que o digam os professores, tratados a pão e água nesta interminável era tucana que praticamente destruiu o ensino público paulista.
Serra também falou de segurança pública e de combate ao narcotráfico, como se tivesse obtido resultados, ao menos, satisfatórios nesse tocante em São Paulo. Os policiais, obrigados a comprar suas próprias botas para trabalhar, poderão respondê-lo à altura.
Assim transcorreu o Roda Viva, sem roda e sem vida, como um espelho do pálido candidato. Não é à toa que Dilma Roussef já apareça bem à frente nas pesquisas eleitorais. O seu nome passou a ser a expressão do avanço de um projeto nacional que se iniciou com Lula e do qual a maioria da população brasileira não quer abrir mão.
Não será a mera retórica de quem diz "trabalhar para as pessoas", "cuidar das famílias" e que o "Brasil pode mais" (slogans genéricos, vazios, falsos e abstratos - afinal quem são as pessoas, quem são as famílias e quem é o Brasil?) que mudará a atual tendência do eleitorado. Ainda bem.

2 comentários:

  1. Nunca gostei nem votei no PSDB, mas depois de todos os escãndalos do governo Lula, do PAC...me sinto numa canoa furada.

    Ruim é o Serra, ruim é a Dilma. Aquele comercial do PT colocando a Dilma a frente, como uma mãe exemplar no combate ao tráfico, foi de uma baixeza vil. Se aproveitar dos sofrimentos de tantas mães com seus filhos no vício e sugerir uma solução imediata, solução esta, inclusive, que o Lula não encontrou em oito anos...foi demais para mim.

    Também acho o Serra perdido, o PT corrompido...Não concordo que o presidente da Natura seja o vice da Marina...Resta-me o quê? Absolutamente nada. Rezar e esperar que o milagre do trabalho e da honestidade invada e contagie Brasília.

    ResponderExcluir
  2. Escândalos do governo Lula? Ou escândalos midiáticos? Às vezes me parece que as pessoas acreditam que a corrupção foi inventada na atual gestão... Não penso que votar na Dilma seja falta de opção, e sim acreditar na continuidade que aos incautos críticos da esquerda da esquerda e dos comedidos conservadores soa como coisa ruim, apenas pela simples necessidade da crítica pela crítica, postura que acreditam ser sinal de consciência de qualquer coisa. O atual governo deu certo e, acima de tudo, entende com sensibilidade a cultura política de nosso país de modo a usá-la a favor da imensa maioria daqueles que durante séculos foram marginalizados.

    ResponderExcluir