A tela em branco, arrisco, mancho a pureza da página, deleto, nada, nenhuma palavra, nenhuma sílaba me encanta ou faz sentido, a vírgula, o ponto, apenas desenhos abstratos, e todos esses textos que ainda sem nascer pendem em clips nas folhas da agenda, previstamente e nos contratos, antecipações do calendário, agosto, setembro, outubro, dezembro, não, repetições de tantos outros momentos de dor, sim, de toda dor da escrita se ela for sincera, sofrerão os verdadeiros escritores, pergunto, sofrem e gozam, extraem suas palavras a forceps como eu, indago, e se ainda fossem palavras poéticas, merda, são apenas junções tipográficas sem alma, artigos sem subjetividade, textos da semvida acadêmica, coisas de teses, resenhas, e ainda assim sinto, dilacero, desvio o olho para o sorriso forçado do Geraldo na televisão, fujo da torpeza e me refugio aqui onde jogo meus detritos mais honestos, luto como Carlos Drummond mas só, sem sua musa imortal:
"Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida".
Em minha ignorância, penso que palavras para alguns são apenas palavras, para outros, são matérias-primas de uma arte textual,a arte de ornamentar com poética, precisão, reflexão, crítica, desconstrução... Sei lá,um olhar a mais. Parabéns! Ornamentou muito bem!
ResponderExcluirParabens, acredito que uma boa escrita futuca nosso ser.
ResponderExcluirÉ necessário que sejamos tocados pelas, muitas vezes, despercebidas formas de sentir.
Abraços
Não chamaria de detritos estes fragmentos da alma.
ResponderExcluirMeus agradecimentos, companheiro de História!
ResponderExcluirA Luta Vã.
ResponderExcluirGrande poema!
E todavia, poetas ou não, ainda lutamos com e pela palavra.
Como disse Quintana...
ResponderExcluirUm bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente... e não a gente a ele!
Estou numa fase que também preciso extrair palavras a forceps...
Belíssimo!
Abraço,
Ane
é sempre um prazer adentrar em seu espaço e perceber que a cultura realmente é nada mais que vasos comunicantes como dizia Said
ResponderExcluirabraço professor!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBeleza, intensidade e poesia...
ResponderExcluirTudo isso encontrei aqui neste teu espaço.
Fiquei encantada.