Hoje fui ver um debate sobre as perspectivas da universidade pública para o próximo decênio. Debate organizado por dirigentes universitários paulistas e, embora dirigido à comunidade universitária em geral, teve como público dominante os próprios dirigentes e seus assessores. E é bom que se diga, na maioria ligados às áreas de aplicação tecnológica, atualmente hegemônicas nas ciências exatas e biológicas.
Dos três palestrantes, dois eram das ciências humanas e o outro médico, todos experientes e no topo da carreira acadêmica. As exposições foram de altíssimo nível e poderiam, certamente, estimular a reflexão sobre os impasses e possibilidades da universidade no mundo mercadológico-midiático contemporâneo. Eu disse poderiam, pois duvido que tiveram ou terão tal efeito entre os presentes.
Tomo o caso da palestra da filósofa Olgária Matos, ponto alto do debate. Ao discorrer sobre as diferenças entre a universidade moderna - aquela que morreu lá pelos anos 70 do século passado - e a universidade pós-moderna - emergente desde então, seu balanço do que ganhamos foi melancólico, para não dizer pessimista. Perdemos os valores humanistas da filosofia, das letras e das ciências como condição para a emancipação humana. Ganhamos os valores da produção tecnológica para o mercado, o controle imperioso da pesquisa para a tecnologia imediata, não importa que sentido tenha. Mas a contabilidade das perdas e ganhos (já que é na lógica contábil que hoje habitamos) vai muito além deste breve resumo, conforme demonstrou a filósofa.
A grande questão que resultou da discussão foi - qual o papel reservado para as humanidades na universidade mercadológica de resultados da atualidade? Eu mesmo fiz esta pergunta, ao final, mas ninguém soube responder. Ao sair do auditório e me despedir de alguns colegas engenheiros, um deles se referiu à minha indagação (é claro, pensando indiretamente na palestra de Olgária Matos) dizendo: mas vocês das ciências humanas só sabem reclamar!
Tenho de concordar com ele. O único papel que nos resta talvez seja reclamar, inclusive dos novos transumanistas (historiadores, filósofos, sociológos, geográfos, professores de letras) que também já se renderam à repetição (pois que produção não é) em série de inutilidades tecnológicas. Aos demais só cabe a tarefa de, uma vez ou outra, adornar o mundo cão dos negócios universitários com pensamentos belos, mas obsoletos, que entrarão por um ouvido e sairão pelo outro.
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