quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uma noite incendiada

E depois disso (vejam post anterior) ainda fui ao cinema assistir ao belíssimo documentário de Renato Terra e Ricardo Calil sobre o festival de música popular brasileira de 1967, organizado pela TV Record. 
Estão todos lá os ídolos da minha geração: Chico, Caetano, Gil, Edu, Os Mutantes, Marília Medalha, MPB4 e até Sérgio Ricardo, aquele que quebrou o violão. Em cenas recuperadas da época e em depoimentos recentes para o filme. Sem nenhuma melancolia, nenhum saudosismo ou ressentimento. Mais vivos do que nunca, livres do peso do passado e, ao mesmo tempo, reconciliados com o tempo histórico.
Experimentei o mesmo sentimento. Entretanto, uma coisa me provocou algo estranho: não tanto uma tristeza, nem mesmo uma desilusão, mas talvez um pouco de raiva, de ira... uma coisa desse tipo. Qual a razão disso? Só após sair do cinema me dei conta da origem dessa sensação de desagrado.
Confiram vocês também caso vejam o espetáculo. Não há uma cena, uma tomada da multidão no teatro, um close dos artistas ou mesmo dos apresentadores e repórteres, em que não se note um cigarrinho bem aceso nas mãos. Uma densa fumaça pelos ares, muitos tocos pelo chão, brasinhas a crepitar na ponta das bitucas.... Tudo tão natural quanto provavelmente (nem tanto) era natural um baseado quando este ainda não estava ligado ao pecado do tráfico. Um baseado do paraíso.
Tal foi o desagrado. Não com 1967, no que eu fui e no que fomos, mas no que nos transformamos. Inocentes decaídos, paranóicos hipocondríacos da máquina biopolítica global.
Com esse sentimento, ainda acendo um e grito: Arreda-te Serra! Não passarás!

7 comentários:

  1. Eis a gasolina para as mentes!
    hahah!
    Grande programa, particularmente adoro.

    Abraços!

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  2. Caro, Antonio

    teu blog pulsa inteligencia!

    parabéns, te sigo!

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  3. Celso, escrevo aqui, novamente, minha resposta ao teu recado no post sobre o Alencar, pois temi que você não retornasse a lê-lo, e por isso meu esclarecimento poderia passar batido.

    Talvez eu tenha me expressado mal. Não quis dizer que me sentia feliz dando aulas na rede privada, pelo contrário. Quis expressar que no sistema de ensino privado, eu me sinto como uma engrenagem que não funciona bem, mal colocada, defeituosa e por isso mal azeitada, sem vaselina, que roda fazendo ruidos. E a consciência de estar colocado dessa forma é ao menos um sinal de resistência, por dentro, daí o felizmente.

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  4. A próposito: adoraria que rotomássemos o contato. Espero ter contigo na Semana de História de Assis.

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  5. Excelente documentário, não vivi essa época, mas adoro estes artistas, pela música, atitude,história chego até sentir saudades e um pouco de inveja de quem viveu.

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