Caros amigos e amigas. Neste blog escreverei aquilo que não cabe em publicações acadêmicas. Não porque elas sejam poucas ou ofereçam espaço restrito aos autores. Ao contrário, com a proliferação espantosa de periódicos desse tipo, é enorme a quantidade de páginas disponíveis para a divulgação de artigos. Acontece que eles se tornaram muito padronizados e nada excitantes. Não me despertam o interesse e nem sinto prazer em escrevê-los.
Portanto, digo desde já que este não é um blog acadêmico, o que não significa dizer que estou abandonando a vida universitária ou minha profissão. Continuo historiador, professor, pesquisador e orientador. Mas aconselho aos eventuais candidatos à minha orientação que este não é o espaço apropriado para a discussão de projetos de pesquisa. Serão benvindos aqui, desde que cheguem para debater sem qualquer outro interesse ou alguma camisa-de-força.
E aos colegas em geral: se no cabeçalho incluo as palavras-chave acadêmicas e historiográficas, convém lembrar que o título geral do blog é impertinências. Isto significar dizer que apenas nesta condição tais assuntos serão tratados.
Neste sítio haverá lugar ainda para temas políticos, porque, como é óbvio, falar de academia, de historiografia ou de cultura é falar de política, queira-se ou não. Esclareço, porém, que não sonho escrever matérias jornalísticas, nem serei um a mais a disputar tal campo profissional, aliás, já tão desmantelado.
Finalmente, esta não será uma página de relacionamentos, pelo menos na acepção que atualmente se dá ao termo. Tampouco será um lugar de escalada, ainda que vã, para a fama e a celebridade. Nunca me imaginei sentado no sofá da Hebe ou do Jô. Há quem goste disso, até mesmo no nosso círculo intelectual. Quanto a mim, nada tenho de especial para anunciar nesses ambientes iluminados.
Levei algum tempo para decidir se teria coragem de abrir um blog, com que propósito o faria e, na hipótese positiva, qual seria o seu tom. Depois de muita angústia, encontrei a resposta num livro póstumo de Edward W. Said, recentemente publicado no Brasil, no qual o historiador palestino analisa o estilo tardio de alguns compositores e escritores, aos quais nem de longe ouso me comparar e cujos nomes omito por pudor. Em todos os casos individuais estudados , mais do que o alcance da transcendência estética, do equilíbrio ou do refinamento teórico, as figuras citadas buscaram, a certa altura da vida, mergulhar criticamente de forma livre e avessa à conciliação: "ser tardio é portanto uma espécie de exílio autoimposto diante de tudo o que costuma ser aceito, um exílio posterior e sobrevivente a isso". Gostaria de experimentar um pouco desse estilo, se é que tenho competência para tanto.
Um blog é sempre um salto no escuro ou, como diria Baudrillard, no buraco negro que é nossa sociedade virtual. Nem sei se terei algum seguidor (palavra inteiramente imprópria em tempos de messianismo líquido), e se não tiver este será, pelo menos, meu fumódromo particular, imprevisto na lei. Mas se alguém se dispuser a frequentar suas impurezas, desde já meus cumprimentos.
Começou bem! Inovações sempre são bem vindas - sem medo de errar.
ResponderExcluirMuito legal!! Acho super interessante os professores da UNESP se aproximarem também deste universo cybercultural.
ResponderExcluirAgora só falta criar um twitter! heheheh
abraços
Márcia e Denis: muito obrigado pelo contato. Vcs foram os primeiros a entrar no blog, espero não decepcioná-los. Grande abraço.
ResponderExcluirMais virtual do que todas as máquinas é o pensamento, virtuoso e imaginativo. É o caos que consome-se em si mesmo. O que podemos ver e aperceber do pensamento alheio não é senão as consequências e os rastros desse mesmo caos.
ResponderExcluirParabéns pelo novo espaço.
Diogo
Olá Antonio Celso,
ResponderExcluirBacana encontrá-lo desta maneira digital, disposto a falar da academia sem ser acadêmico, e além de tudo de maneira impertinente. A propósito, gostaria de uma reflexão sua a respeito da matéria da revista Fapesp (http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3924&bd=1&pg=1&lg=), que comenta o desconhecimento da ciência brasileira no mundo científico porque não hablamos a língua franca dessa ciência, que é o inglês. É como pesquisar, pesquisar e morrer no abstract.
Um abraço.
Rogério Ivano
Caríssimo,
ResponderExcluirFico deveras feliz com sua nova empreitada!
é um modo estranho de aproximação, sou um tanto anacrônico, mas ainda assim é legal, dá pra sacar o que estais a agonizar.
Enfim, espero postagens...
grande abraço,
Rodrigo Acioli Peixoto
Parabéns pela ousadia....não é fácil entar no mundo das virtualidades, tampouco quando se trata de encontrar as rachaduras, o que foge, as impertinências!
ResponderExcluirEspero que seja uma experiência duradoura e potente.
Confesso que surpreendeu-me...sucesso.
Parabéns
ResponderExcluirA proposta tem a sua cara. Causa-me apreensão desporjar dos ranços acadêmicos e ser solta o suficiente para flanar no mundo virtual sem perder o rumo do pensar com seriedade. Mas vale tentar.
Olá Antônio Celso!
ResponderExcluirAdoro iniciativas não-acadêmicas... O academicismo não sai da acadêmia! Idéias como essa tem um poder de alcance infinitamente maior, além de mais livre.
Parabéns!
No fim das contas é bom ver que aquele diretor com quem "briguei" tanto na faculdade é tão humano e cheio de boas idéias (livres! livres de burocracia).
Até um outro encontro na rodoviária de sp comprando àgua tônica!
Diogo,Rogério, Rodrigo, Raover, Flávia, Ju: muito obrigado por visitarem a página e pelo estímulo. Rogério: não li o artigo, mas é correto afirmar que o português está em desvantagem diante do inglês. Do ponto de vista pragmático, que é o adotado hoje pelas universidades e agências, temos de escrever em inglês e disputar publicações em revistas internacionais. Mas haveria outras posturas possíveis: qual a ciência que se quer? os estudantes sublevados dos campi norte-americanos denunciaram as ligações do saber com a guerra nos velhos idos de 68. Alguma atitude antropofágica talvez fosse necessária. Além disso, algumas revistas cobram para publicar, o jogo é pesado, não há ciência desinteressada. O slogan contra o império está forte, mas não entre os inveterados neoliberais colonizados. É o que penso.
ResponderExcluirSolidão Líquida
ResponderExcluirEscola nesse país é privilégio. A universidade não faz outra coisa senão reforçar esse privilégio.
No ambiente asséptico e altamente competitivo que se tornou a universidade, se traficam interesses, se suborna com reconhecimento. Tudo se trata da disputa pelo domínio de exclusividades (saber/poder)... domínio de uma linguagem, que cada vez mais carregada, serve-se do jargão para conservar essas exclusividades e cada vez mais se torna capaz de explicar coisa nenhuma.
A aventura do impertinente parece ser remover o entulho sobre a lucidez e precipitar-se solitário na loucura. Quando o pensar não se orienta por interesses, quando pensar não é poder sobrenada nem ninguém, é loucura.
Duvido que nunca se imaginou sendo entrevistado pelo Jô Soares
Refrão: ... numa oralidade que se antecipa à covardia e pompa do poder, é auto-denúncia, mas que denuncia mais. Como um palhaço que é caricatura ridícula do rei... ou será o rei caricatura ridícula do palhaço?
Tauanmgg, um dos assuntos da minha agenda mental é exatamente esse desejo de ser celebridade e de vender(se) mercadorias-entretenimento, que já tomou conta da academia. Assim que tiver um tempo quero tratar disso que me atormenta. A sua provocação-dúvida será respondida, tenha certeza. Já pensei muito sobre isso.
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