faço um pequeno balanço desta experiência de pouco mais de um mês do blog. Até pouco tempo atrás, quase nada entendia das possibilidades do mundo virtual. Não quero me tornar um navegador compulsivo nem um otimista irrecuperável, mas a coisa vicia e ilude.
Ainda nos anos de 1970, creio eu, antes da internet ser conhecida no planeta, e quando a principal novidade internacional era a televisão, Umberto Eco já falava de duas posturas intelectuais diante dos modernos meios de comunicação: os apocalípticos viam neles o prenúncio do fim da cultura; os integrados deixavam-se levar por suas ondas sem qualquer reflexão crítica. Qual a saída? Nem uma nem outra, mas aceitar o que vem e fazer dele bom uso.
Estou na fase de certo encantamento, um tanto integrado, especialmente porque posso ter contato quase instantâneo com os amigos que cada vez mais chegam. Gostaria de responder a todos, debater, criar um forum nesta página. Mas acontece que os comentários são prá lá de bons: Diogo, Camila, Moacir, Tauamg, outros aos quais me referi antes, aqueles que me enviam emails, enfim, sintam-se à vontade, esta página é também de vocês.
Para mim o blog ganhou um significado especial. De um lado ele me proporciona algo que sempre persegui: gosto de descarregar rapidamente as idéias e as emoções, não me agrada carregá-las anos a fio. É, portanto, diferente da experiência do pesquisador e do autor de livro. Claro que não diria o que aqui falo exatamente da mesma maneira se estivesse escrevendo um trabalho como historiador.
Mas esse satisfação imediata é também interessante, as idéias fluem, jorram, tentam se conectar com outras vindas do saco sem fundo virtual . É uma espécie de satisfação ((gozo) distinta do trabalho intelectual propriamente dito. Parece mais com a situação em sala de aula (da qual estou momentaneamente afastado). Aliás, penso que a educação daqui para frente terá de ser em parte virtual, não evidentemente para economizar custo com professores, mas para ampliar as possibilidades de contato para além dos muros da escola (falando nisso, vocês viram Entre os muros da escola? Excelente filme).
Gosto também das idéias articuladas às práticas - assim respondo ao Tauamg. Gosto de entrar e sair das estruturas, explorar seus meandros, ir até os limites e depois deixá-las à procura de outras. Não me deixo seduzir por elas, nem a elas me subordino. Sendo um pouco otimista, blogs talvez sejam novas estruturas com virtualidades e impossibilidades. Temos de estar dentro e ao mesmo tempo fora. Integração e distanciamento.
Tenho mil temas já engatilhados para tratar. O próximo será a respeito das origens da nossa sociedade do espetáculo, conforme Debord, ou da cultura do narcisismo, conforme Lasch, ou do homem unidimensional, todos estas definições apropriadas, cada uma contendo uma parte do que somos hoje. Mas não abandonarei assuntos mais urgentes, como o da educação, ou aqueles do meio historiográfico, anunciados como exorcismos - ou ainda processos catárticos, no sentido grego. Antes, tenho de tomar fôlego como faço agora.
Vejo no alto da página os logos dos meus seguidores. Que palavra imprópria. Ou melhor, tão característica do agora humano. Tenho explorado o twitter. Lá, as pessoas seguem as outras à procura de que? Sei que umas seguem celebridades, em busca de alguma idenficação perdida ou nunca auto-construída. Numa pesquisa a esmo, digitei as palavras educação, historiografia, debate intelectual, filosofia. Nada encontrei. Pensei em algum nome conhecido e respeitado de intelectual: escrevi Marilena Chaui, mas ela nunca foi mencionada no twitter. Que droga! Tirante os seguidores de celebridades, a palavra se refere aos discípulos de líderes messiânicos. Talvez esta seja uma saída, pois a lógica é a mesma. Além do mais, as novas seitas são extremamente modernas porque também oferecem essa espécie de auto-ajuda, que é seguir o Cristo espetacular. Outro assunto engatilhado, aguardem!
Apesar disso, confesso que fiquei um tanto entusiasmado em ter seguidores, embora eu os conheça um por um e saiba que nenhum deles tem o perfil de identidade atrofiada acima descrito. Cada um tem idéias próprias e me orgulho de tê-los nesta página.
Li outro dia uma crônica bem-humorada de Zeca Baleiro sobre a internet. Ao terminar seu escrito, depois de descrever sua experiência como blogueiro, ele fechou com esta máxima: Não me sigam que não sou novela. Meu lado crítico diria o mesmo. Esqueço-o rapidamente e me rendo ao lado emocional e militante, que reclama a presença dos outros comigo, sem distinção. Eu também sou seu follower.