domingo, 15 de agosto de 2010

Maria da Conceição Tavares, lúcida economista aos 80 anos

O que é bom deve ser divulgado. É o caso da entrevista com Maria da Conceição Tavares, reproduzida na revista Carta Capital desta semana (e preparada para uma coletânea sobre a vida e obra dessa polêmica e respeitada economista, a ser lançada ainda neste mês na comemoração dos seus 80 anos).
Alguém se lembra dela depois de duas décadas de hegemonia do pensamento neoliberal? Acho que pouca gente, inclusive entre os estudantes e novos profissionais da área. Mas vale a pena retomar as idéias dessa pensadora que formou os melhores e mais generosos quadros da economia política brasileira, lamentavelmente isolados durante os longos anos da ditadura militar e do reinado tucano nos anos 90.
Lúcida e direta em suas respostas, ela se reconhece influenciada pelas idéias de Darcy Ribeiro e Celso Furtado, dentre outros intelectuais provenientes do ISEB, da CEPAL e do marxismo. Combate vigorosamente as teses de Fernando Henrique Cardoso nos tempos em que ele e outros intelectuais uspianos paulistas formularam a teoria da dependência e a crítica ao suposto populismo de Vargas. Teses que fundamentaram, aliás, a política neoliberal de FHC, armada para demolir a herança do nacional desenvolvimentismo que àquela época parecia ainda ecoar nas vozes de Brizola e Lula. Eis o que Conceição Tavares diz sobre o presidente príncipe dos sociólogos:

"Nao esperava que um intelectual do porte de FHC desmontasse a Constituição, sobretudo nos aspectos do Estado do bem-estar e da soberania nacional. Houve muitos prejuízos à republicanização do Brasil, sobretudo por causa da privatização, do endividamento explosivo (...) da política de repressão aos movimentos sociais e da submissão ao Fundo Monetário Internacional (...). A regressividade distributiva da política fiscal, tanto do lado da receita quanto da despesa, foi agravada pela política monetária (...). Assim, em vez de encaminhar-se pelas aspirações e lutas econômicas e sociais da década de 80, o Estado brasileiro converteu-se em um Estado do mal-estar social".

E já que estamos falando de engajamento político, imprescindível no momento eleitoral que atravessamos, não custa prestar atenção, igualmente, no que essa velha senhora reformista diz sobre a candidata Dilma Roussef. Arrebenta, Maria da Conceição!



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