quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Intelectuais de volta ao passado

Agradeço muitíssimo às amigas e amigos que comentaram minhas opiniões impressionistas do post anterior, ainda que eu discorde de um ou de outro. Meu interesse maior no blog não é a política. Gostaria de voltar aos assuntos que me são mais caros: o mundo atual como espetáculo deprimente (incluindo a política), a subjetividade atônita e a perplexidade filosófica dos nossos dias, a arte como vida autêntica. Mas entre tudo isto e a realidade cotidiana há um buraco terrível, quase intransponível. Por isso tenho de voltar à carga:

Manifesto em defesa da democracia elitista: Leio no Estadão de hoje a íntegra do manifesto que será divulgado amanhã por um punhado de intelectuais liberais de São Paulo ligados a José Serra. O texto virá com as assinaturas de figurinhas carimbadas, algumas portadoras de inegável crédito intelectual, embora politicamente comprometidas e equivocadas, outras sem o mesmo prestígio ou simplesmente oportunistas. São elas: D. Paulo Evaristo Arns, cujo papel na luta contra a ditadura militar temos de reconhecer e aplaudir, ainda que não se possa ignorar seus vínculos políticos, eclesiásticos e civis, com o pensamento conservador; Ferreira Gullar, sobre o qual já falei antes e não perco mais tempo para tratar dele; os cientistas políticos José Álvaro Moisés, Bóris Fausto, Leôncio Martins Rodrigues e Lourdes Sola, conhecidos personagens do staff fernandohenriquista, reacionários até a medula; José Arthur Giannotti, filósofo guru do mesmo grupo;  Celso Lafer, liberal de carteirinha da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo; Marco Antonio Villa, historiador da causa perdida de 1932, restaurador dos mitos paulistas pré-históricos, funcionário contratado por Serra para dirigir uma coleção pró-bandeirantismo; e uns outros artistas da velha guarda. Não se espere que seja obrigatório a todo artista pensar. O teor do manifesto é de uma hipocrisia enorme, revestida de sinceridade democrática. Leiam amanhã.

A ditadura democrática da mídia: O príncipe dos sociólogos ressurge de quando em quando para nos civilizar. No mesmo Estadão do domingo passado ele se levanta do trono para solenemente dizer: "Uma das coisas que mais me surpreendeu (sic, eminência) na trajetória política de Lula foi a absorção por ele do que há de pior na cultura do conservadorismo, do comportamento tradicional (...). O PT quando foi criado se opunha ao corporativismo herdado do fascismo e de Getúlio Vargas. No poder, vemos que ele ampliou esse corporativismo". FHC, PSDB e seus intelectuais orgânicos, aliados ao moderno, civilizado e democrático DEM e à mídia financiada golpista, simplesmente temem a democracia de base popular, única forma que, historicamente, pode promover reformas sociais na América Latina. As velhas questões da democracia social, recalcadas pelo superego civilizado e moderno, estão de volta. Assustado, o superego tentará o golpe? Quem o apoiará? Os militares, a classe média, as senhoras católicas das cavernas? Não creio.

O sonho e a realidade de Marina Silva:  Cabocla bem-formada nas lutas do PT, Marina Silva não se conteve dentro de si mesma, foi incontinente. Egóica e apressada, incensada pelas ONGs internacionais, não teve a paciência de articular políticas de desenvolvimento sustentável à política social de urgência e premência para o país, experimentada a partir do governo Lula. Rendeu-se ao discurso oco dos verdes nacionais, modernos de superfície. É uma pena que tenha caído nessa cova de leões sem rumo.

A visão de Deus: íntegra das palavras pintadas no papelão de cobertura do mendigo que mora aqui perto de casa, o mesmo ao qual me referi no antepenúltimo post: "Só uns come, outros não pode come. Só Deus. Voce não tem visão?". Remeto esta pergunta a Marina Silva, defensora da política de desenvolvimento sustentável. Não é preciso alguma resposta de Serra, já a conheço de cor, apesar das suas últimas investidas desesperadas - estas, sim, demagógico-populistas, como a promessa insustentável de aumento do salário mínimo. 

Um comentário:

  1. Acompanho seus textos já a algum tempo e gosto muito da forma como expõe sua visão de mundo. Excelente! Não diria que são textos políticos, mas sim textos de uma pessoa politizada.Parabéns

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