sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Viver em Tokyo e aqui

Três filmes sobre a arte de sobreviver na metrópole: Medos privados em lugares públicos (Alain Resnais - 2006), Paris (Cédric Kaplish - 2008) e Tokyo (Michel Gondry, Leos Carx e Joon-ho-Bong - 2008 - trailer no post anterior). Todos sensíveis e dignos de nota.
No primeiro, o consagrado Resnais entrecruza histórias de personagens confinados em lugares públicos, cada um às voltas com seus pequenos dramas: o garçom do bar tecno que escuta confidências amorosas de um bêbado; a funcionária recatada de um escritório que à noite vira striper de um velho tarado; a bela jovem que marca encontros secretos com desconhecidos em locais distantes... Paris é ai a cidade do gelo, da melancolia e dos desencontros.
A mesma capital da luz é,  no entanto, o palco da busca de sentido para um rapaz que descobre estar às portas da morte. Fechado em seu apartamento sombrio, ele acompanha da sacada o vai-e-vem de outras pessoas comuns, o tráfego urbano, as lojas, as casas, os amigos, a família. Assim descobre alguma poesia na cidade.
A megalópole Tókio impressiona mais. Aparece num monumental colorido arquitetônico 3D, mas logo se fragmenta em cubículos soturnos. Em três fantasias, dois cineastas franceses e um coreano falam das diferentes formas de solidão: do jovem casal à procura de moradia nos minúsculos apartamentos anunciados nos classificados; do homem-merda, habitante dos esgostos que de vez em quando vem  à tona para assustar os transeuntes; do moço sensível que opta pelo pleno isolamento social mas, percebe, por fim, que as ruas ficaram vazias porque todos em torno de si também se transformaram em kikomoris, como ele.
Nessa rapsódia (im)provável, nada do esperado naturalismo ou do terror tecnológico dejavu hollyoodiano. Da atmosfera sombria aflora um riso subterrâneo, como no caso do homem-merda terrorista. A jovem desempregada se transforma em cadeira, como num quadro surreal. O robô entregador de pizzas irrompe na realidade, sem qualquer espanto de utopia.
O cinema, que às vezes parece ter dito tudo, volta a experimentar alguma coisa de novo e a dizer o mais profundo dilema humano.  

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