terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bombons de felicidade

O fim de ano se aproxima e, mais do que nunca, é preciso ser feliz. Há oferta de todo tipo e gosto para atingir esse sentimento obrigatório.  
Já se sabe hoje, felizmente, que a felicidade não depende só da riqueza, embora todos estejam de olho no milhão oferecido pela Fazenda. Adriana Bombom foi precocemente eliminada do programa, mas persistente como é, não abandonará a meta muscular-exibicionista de felicidade.  Cuidado, porém: como diz Márcia Goldschmidt, tal estado não depende unicamente da aparência externa. É claro que ela é necessária e pode mesmo ser obtida, de modo express, com pequenos procedimentos cirúrgicos e maquiláticos. Sua teoria, porém, é a de que a mudança externa deve ser acompanhada de uma transformação interna. Basta seguir seus conselhos terapêuticos pelo celular.
Juliana Gimenez é outra que contribui para a emancipação humana rumo à felicidade. É capaz de transformar esposas-bagulho em aviões dignos de calendários para a masturbação de borracheiros. Afinal, todas e todos nós temos fantasias imprescindíveis para a auto-realização.
Nunca antes na história - que bom -, alguns termos e conceitos, antes circunscritos ao vocabulário científico, se tornaram tão populares. Exemplo disso é prefixo auto, que já não é usado apenas para se referir ao automóvel, outrora uma fantasia limitada aos ricos. Serve também agora para introduzir outros vocábulos de alcance público, por exemplo, estimaconfiança. Como aparece nos anúncios das clínicas especializadas em carga dentária imediata para recuperar a autoconfiança dos banguelas. Ou nas propagandas de aparelhos e corpetes milagrosos para disfarçar a gordura e assim melhorar a auto-estima (também chamada de baixo-estima).
Outra palavra democratizada é a libido. Tem até um japonês que vende erva na televisão para a melhoria dessa instância antes tão combatida pelos católicos. Mas hoje os padres são mais modernos e, em particular, aqueles cantantes, já admitem que o sexo é bom para um casamento feliz. Os pastores eletrônicos vão ainda mais longe e tratam abertamente das questões sexuais de forma pública e interativa no fala que eu te escuto.
A terapia chegou à boca do povo, nas suas variadas modalidades: terapias cognitivas, medicamentosas, instantâneas, externas e internas, budistas, evangélicas, católicas, espíritas... 
Oremos ao céu, onde vive o grande terapeuta. Sem deixar, é evidente, de dar uma espiada no shopping, pois um simples sapato novo também tem o dom de elevar nossa autoconfiança. E isso já é um passinho a mais rumo à grande felicidade que reinicia no natal e no ano novo.  

3 comentários:

  1. ahh opressão maquiavélica da famigerada felicidade, que elimina o espaço CRIATIVO entre a afetação e a ação... as felizes vaquinhas coladas na paisagem...

    EG

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  2. Meu lado masoquista regozijou com esse texto ácido! É verdade que as terapias do tipo "concerta" pululam. E que temos as frases prontas para cada situação que exige consolo. E que todos se sentem mais ou menos "curandeiros" da dor alheia. E que tudo virou depressão e solução para ela. E que a dor não tem mais lugar: ninguém atura alguém que não É FELIZ. Ninguém se permite o tempo da insatisfação, do vazio, vamos preenchendo o tempo de coisas inúteis, e a existência perde o rumo. O Concerta não é uma metáfora: tem um remédio com esse nome...

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  3. Você conseguiu descrever a atmosfera sufocante do mês do dezembro, em particular o natal. E a obrigação da felicidade contagia o restante do ano.

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