domingo, 28 de março de 2010

Serra no divã

Acho que andei lendo Freud além da conta. Minutos atrás fechei a última página de Leonardo da Vinci e uma lembrança da infância/ O Moisés de Michelângelo, obra que mais uma vez revela a inteligência, a intuição e a clareza analítica do pai da psicanálise.
Mas enquanto seguia essa pesquisa da subjetividade dos dois grandes artistas do Renascimento, me indagava se o mesmo método poderia ser aplicado para compreender os fatos psicológicos de um personagem mais próximo de nós, cuja ação nos afeta diretamente: José Serra, atual governador do Estado de São Paulo e candidato a presidente do Brasil.
Com um olho no livro e outro no noticiário da tv e do twitter, me indagava que forças desconhecidas atuam na cabeça desse homem sabidamente movido por uma extrema ambição política que o leva a usar meios vis e cruéis para atingir seus objetivos, tais como o conluio com a mídia golpista e a fabricação de dossiês infamantes? O que acontece na mente desse sujeito conhecido ainda por lidar com enorme frieza em face da impopularidade e das situações políticas desfavoráveis ao seu projeto maior? Como é que se moldou tal personalidade, que conflitos infantis, que espécie de gozo perverso ele repete em seus atos?
Nada se conhece desse território obscuro. O que não se ignora, porém, é a metamorfose radical do seu perfil político, marcado por passagens de um pólo ideológico a outro: da presidência da UNE ao Palácio Neoliberal Bandeirante, do exílio subversivo ao poder conservador, da esquerda radical à direita truculenta. O que não é possível esconder é sua defesa, 46 anos atrás, de propostas políticas, valores sociais e princípios éticos inteiramente distintos dos que defende atualmente. O que é transparente é seu atual divórcio do compromisso com os desfavorecidos e a justiça social, proclamados na tribuna em 13 de março de 1964, ao lado de Jango, Miguel Arraes e Leonel Brizola. O que salta aos olhos é sua capacidade de reprimir violentamente uma manifestação de professores e alunos, na qual marchava, entre outros, o presidente daquela mesma entidade estudantil que presidira, seu sucessor na história das lutas pela melhoria do ensino.
Quem era e quem é o verdadeiro Serra? Ora, Antonio Celso, que ingenuidade! Leia um pouco de Maquiavel. Largue mão desse idealismo babaca, desse cristianismo hipócrita. Política é assim mesmo! Coerência, que besteira estapafúrdia!
Sei lá. Pode ser. Acho mesmo que andei lendo Freud demais. E que talvez não valha a pena gastar vela com defundo pagão, melhor é voltar para grandes homens como Da Vinci e Michelângelo, cujas contradições, incoerências e conflitos internos se manifestavam através da arte - sublime arte. Mas que tem coisa escondida naquela personalidade desumana, insensível e ambiciosa, ah, disso não tenho dúvida.

3 comentários:

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  2. Refletir é sempre bom, mas depois o melhor a fazer mesmo é voltar aos grandes homens. Já dizia Platão que os poucos que tenham acesso ao mundo inteligível e tente mostrar a realidade aos que acreditam nas sombras da caverna(no caso os brasileiros de memória curta)é risco de morte na certa. Quanto ao Freud penso que tentaria a hipinose com o "cidadão" no divã, o problema é que ficaria tentado a não acordá-lo do transe. rsrs Abraço.

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  3. Os homens mudam. Mas quando mudam para pior...! O mais doloroso é trair a si mesmo. Ou não! Vai ver que lá naqueles idos era um oportunista e ninguém percebeu.

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