Ó lua, espelho do chão
que andas no céu pendurado,
holofote da ilusão
pelo turismo alugado,
não ilumines em vão
os sulcos do empedrado!
Denuncia nas valetas
As sombras que tu arrastas:
prostitutas, proxenetas,
silhuetas de pederastas...
colos brancos. Rendas pretas.
Casas tortas. Pedras gastas.
As rugas do sobressalto,
Ó lua não as destruas!
Tu viste carros no asfalto
rondarem por estas ruas;
viste rolarem no asfalto
vestes mais alvas que as tuas.
Foste a lua que se expunha
aos tiros a multidão;
espelhastes na tua unha
a secular aflição;
e já foste testemunha
dos fogos da Inquisição.
Procissões do Santo Ofício...
fileiras de condenados...
À noite, nem só o vício
rasteja por estes lados:
as serpentes do suplício
silvam nos pátios murados...
Ó lua, guarda o retrato
de tudo, tudo a que assistas!
Não queiras passar ao lado
da desgraça que visitas!
Nem queiras ser infamado
Passatempo de turistas!
Clorofórmio dos enfermos,
se foge dos hospitais,
então recolhe-te aos ermos
desertos celestiais!
E enquanto te não merecemos
Não te acendas nunca mais!
Poema declamado pelo autor em dezembro de 1968, no sarau em casa de Amália Rodrigues, que reuniu fadistas e poetas, entre eles Vinícius de Morais.
(Para meu amigo Anderson, eterno militante das causas vividas no supermundo)
lua à vista
ResponderExcluirbrilhavas assim
sobre auschwitz?
Paulo Leminski
os meus ouvidos tavam ouvindo tantos ruídos da cidade barulhenta, mas essas inconformidades me cantaram alguma coisa q eu entendi... (e fazia tempo q eu já não entendia mais nada!!!...)
ResponderExcluir"quem é capaz de
ResponderExcluirdeter
aquele que já não
respira?
nenhum temor,
amarras
choro
muro armadura
esquecimento ou faca
cianureto lágrima
soco pontapé injúria"
O poema é lindo. E Parabéns pelo espaço.
EG