Sempre tive comigo que a melhor maneira de aprender é por conta própria. Por óbvio, isto não pressupõe o isolamento, mas a troca do saber com aqueles que escolhemos e que nos escolhem de modo livre e espontâneo. Desde a adolescência segui inconscientemente esse caminho do qual absolutamente não me arrependo. Do ginásio à universidade aproveitei da escola, quando havia, aquilo que ela podia me dar de melhor - o ambiente, as amizades, a partilha cultural e política não-institucional.
Cumpri tabela na maior parte das disciplinas. Estudava com prazer o que me interessava e levava nas coxas, ainda que com certo êxito, as demais matérias. Não enganei nenhum mestre, apenas retribuia a cada um na medida da paixão pelo conhecimento que conseguia despertar em mim. Meu modelo didático foi um professor de português que, ao longo dos sete anos do ensino médio, raras vezes deu aulas de gramática por detestar as regras linguísticas. Mas, como em compensação, amava a literatura, nos contava os enredos dos romances, nos estimulava a ler livros e a debater seus conteúdos em sala. Com ele aprendi que aprender gramática se aprende na prática de leitura e de escrita. Tive também a sorte de ter como orientadores de pós-graduação historiadores que não se prestavam a psicografar minhas teses.
Dirão vocês que minha experiência não tem nada de diferente em relação ao que acontece ou à expectativa da maioria das pessoas, o que é a mais pura verdade.Todas gostariam de construir seu aprendizado sem constrangimentos nocivos, embora pouquíssimas consigam fazê-lo. Por que?
A escola, tal como a conhecemos, é herdeira da junção (nem sempre harmônica) de três sistemas disciplinares, originários da igreja, do estado nacional e o da organização industrial. Os currículos e as pedagogias atuais ainda carregam muito do peso dessas instituições. Queiramos ou não, ainda vivem da produção de receitas uniformizadoras, incompatíveis com as formas atuais de padronização e individuação.
Não é à toa que os estudantes detestam a escola. Não é à toa que ela se tornou obsoleta e violenta, no centro e na periferia. Se na universidade os alunos se distraem nas aulas a bordo de celulares, maconha, brejas e laptops, imagine-se o ambiente dos espertos jovens de hoje enjaulados em salas/celas fechadas. O único jeito é evadir e há muitas formas para isso, reais e virtuais.
Nada disso é novidade, convenhamos. O que é novo, mas temos medo de dizer - e sobretudo de praticar - são as possibilidades de autodidaxia abertas pela sociedade em rede. Não me refiro ao EAD conhecido nem às aulas-multimídia, instrumentos que até agora só serviram para dar aparência moderna ao velho sistema disciplinar. Há algo mais do que isso no espaço do imaginável e do factível.
Teremos coragem de ousar experimentá-lo ou esperaremos a sua legitimação/consagração/disciplinação institucional?
Estas linhas são somente um preâmbulo.
E apreveitemos os encontros!!!...
ResponderExcluirAfinal, ainda se pode dizer que a internet é um meio democrático e de difícil controle (o q assusta a muitos q vem tentando regular-izá-la), além de não institucionalizado - perfeito para aqueles que vem às avessas com as instituições...
E o que queria dizer com o "aproveitemos os encontros!" é que boa parte das minha melhores discussões acadêmicas se deu nas mesas do bar ou qnd parava uma leitura na biblioteca para conversar por horas. Esses encontros e essas trocas me formaram muito mais que o academicismo.
Acho que esse espaço é bem "senta ai e toma uma com a gente!!!", então aproveitemos esses encontros sem muros!
o pior de tudo na minha opinião é que se criam mirabolantes ditáticas virtuais para impor o mesmo velho conceito de educação cotidiano...quando natualmente não dão certo, atribui-se o problema ao novo recurso. não ao método...
ResponderExcluira escola poderia ser, como existem algumas experiências, essa roda de conversa, prómima a uma mesa de bar, só que sem a cerveja...