sexta-feira, 5 de março de 2010

Conversa com o escritelector

Inauguro aqui um novo espaço para colocar em dia a correspondência com os visitantes do blog.  Primeira conversa:
  •  Paulo Laurindo pergunta o significado das expressões árvore dos conhecimentos e inteligência coletiva, que empreguei no penúltimo post. Ambas são usadas pelo filósofo Pierre Lévy, estudioso da cibercultura (atualmente professor da Universidade de Otawa, Canadá). A primeira forneceria uma modelo aproximado da tendencial disposição  dos saberes contemporâneos, muito diferente da forma como os conhecemos desde a Idade Moderna e que ainda organiza o sistema escolar. A segunda expressaria o modo contemporâneo de criação, circulação e apropriação das informações e dos conhecimentos, sob mediação da internet. Um tal modo que extravasa os espaços institucionais de organização do saber hoje vigentes: disciplinas, currículos, cursos, hierarquias entre especialistas e leigos, ou entre autor e leitor, etc.
  • A brincadeira que inventei no título deste post dá uma idéia disso: escritelector - um termo meio idiota e tardiamente modernista, que serve, pelo menos, para dizer que quem frequenta blogs e coisas semelhantes é meio autor, meio escritor, internauta, navegador e tudo isso junto. A filosofia contemporânea tem mostrado que vivemos uma época de falência dos antigos conceitos explicativos do mundo. Algumas pessoas têm ousado pensar a respeito do problema e até criar teorias e interpretações novas. Não é fácil. Há muito de boa e má utopia nisso tudo. Nem sei se acredito piamente nelas, mas não as ignoro.
  • A propósito disso, eu e Tania de Luca - também historiadora - daremos um curso na pós-graduação em Assis, neste semestre, sobre tais impasses e tentativas de interpretação das mudanças socioculturais contemporâneas. Aliás, o curso já começou. 
  • Vale a pena ler a Carta Capital desta semana. O título da matéria de capa é O plebiscito em marcha: uma equidistante análise dos governos: FHC e Lula. É claro que não é tão equidistante assim: trata-se de um dos poucos periódicos simpáticos ao governo e que, portanto, não integra o PIG. Nem por isso os artigos desse dossier deixam de fazer críticas sérias a algumas políticas adotadas por Lula. Apesar disso, evidenciam, com números e análises bem fundamentadas, o seu inegável sucesso na maioria dos indicadores econômicos e sociais. Demonstram, por outro lado, o inegável fracasso de FHC nesses mesmos itens. Por isso o PSDB quer evitar qualquer tipo de comparação.
  • Hoje foi dia de manifestação dos professores e diretores das escolas estaduais diante da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, na Praça da República. Pude presenciá-la por acaso, ao voltar para casa. Há tempo não via tanta gente e tamanha energia entre os professores. Vem greve por ai, péssima notícia para o candidato Serra. Será que a mídia dará destaque ao fato? Não é preciso responder.
  • Aproveito para dizer que, embora venha falando tanto de política no blog, na verdade, não gosto de política. Minha experiência participativa nesse campo adverte que, salvo poucas exceções, a política (nunca há "a" política, genérica assim) que conheço garante lugar para os medíocres, arrivistas, interesseiros, pragmáticos, sem projetos, sem utopias. Por isso gostaria, isto sim, que o blog fosse só de literatura, música, cinema, outras artes e alguma ciência (desde que aberta). Mas tenho sempre comigo um diabo que me inferniza e estimula minha revolta que vem de longe e nem psicanalista cura. Não posso fazer nada contra isso. Como cantou Maisa, "eu não posso calar dentro em mim, esta chama que não vai passar/ é mais forte que eu e não quero dela me afastar"
  • Mas tenho que ser sincero com o escritelector que visita este espaço: este não é um blog político-partidário. Voto há anos num deles, continuo fiel, no entanto, sou e serei sempre independente. Leal, sobretudo, às minhas convicções. E principalmente às minhas dúvidas que explicam porque, de vez em quando, salpico esta página com ceticismos, absursos, nonsenses, banalidades, obscuridades da alma - e um pouquinho de sensibilidade. Conto com vocês nessa jornada de contradições.

Um comentário:

  1. Celso, senti firmeza. Abandonei o curso de Filosofia lá pelos idos dos anos 70 e saí caminho à fora para fazer bestagens. Umas deram certos, noutras quebrei a cara. Mas sobrevivi e quando pensei que não, estava com o quarto entulhado de livros e sem saber o que fazer nem por onde começar. Num dia de tristeza, decidi que estava na hora de meter os peitos no universo virtual. Foi o suicídio mais redentor que cometi na vida. Fuça daqui, fuça dali, após topar com tanto engonço, cheguei a este recife de coral onde habita teu sitio.
    Um homem a gente reconhece pelas respostas. O modo como responde. A maneira como diz. Vou ficar na tua cola.

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