Já faz tempo que eu queria comentar a polêmica sobre o livro eletrônico, o e-book - como o chamamos, americanófilos que somos. Mas sempre deixava o assunto de lado, sem saco para começá-lo. Quando tentava organizar as idéias e consultar algum material, logo me parecia que em torno do tema havia mais barulho do que experiências ou fatos concretos.
Li muita coisa a respeito, porém, nada que me contentasse. Os historiadores dedicados à história da leitura se limitam a mostrar que o livro, tal qual o conhecemos hoje, é um suporte material entre outros, inventado na Idade Média e aperfeiçoado nos tempos modernos. Dai concluírem que, como todos os suportes materiais da leitura, poderá um dia ser substituído por outro, o que certamente implicará novos modos de ler, escrever e pensar.
Os futurologistas desenham mil cenários novos a partir do e-book: outros tipos de textos e leitores, outras formas de biblioteca e assim por diante. As grandes corporações tecnológicas tentam criar e vender seus variados aparelhos leitores eletrônicos e disputam entre si como galos sangrentos. Falta oferecer o cheiro do papel (sobretudo o velho) e o gostinho de virar a página com o dedo molhado na língua, o que absolutamente não será difícil inventar, por mais antihigiênico que seja tal gesto. Querem, é claro, ganhar muito dinheiro com a disseminação desses novos produtos e por isso supervalorizam suas modernidades.
Nós, brasileiros, loucos por novidades desde os tempos cabralinos, costumamos babar diante de espelhinhos e, principalmente, telinhas. Só que, até agora, nada garante que o tal do e-book venha a decolar, apesar de alguns ensaios editoriais ainda não avaliados. Por outro lado da página, não há notícias de que a coisa já tenha pegado nem mesmo na Europa ou nos States. Portanto, é o caso alertar: vamos com calma, menos, caros utopistas das bugigangas do futuro!
Pessoalmente, acho que algumas formas de textos eletrônicos poderão ganhar o gosto do público leitor pela facilidade de leitura, divulgação, acesso e download. Em geral, os textos curtos, mais objetivos, diretos e utilitários, como por exemplo: escritos técnicos, dicionários, artigos acadêmicos das áreas de tecnociências (e não das humanidades, ainda que elas pouco a pouco estejam se tornando tecnociências humanas - cruzes!). Vejo também grande possibilidade de difusão eletrônica de minicontos, poemas e outras criações literárias e artísticas. Ponto a favor da tecnologia.
Mas, por favor, pelo menos na década que iniciará, não creio que vingarão filosofias, histórias ou romances eboôkicos. E se vingarem, estou fora! Aliás, já nem estarei entre vós, herdeiros do futuro. Por isso gostei muito do vídeo abaixo, que a Tania de Luca me enviou. Vejam também e digam o que acharam.
Interessante mas nunca deixaremos de sentir prazer ao abrir as páginas de um livro e sentir o seu cheiro.
ResponderExcluirUm abraço.
Olá!
ResponderExcluirMuito obrigada por acompanahr meu blog; seja sempre muito benvindo!
Olha só que coisa: acabei de postar uma resenha onde digo exatamente isso: pode ser prático mas um e-book jamais superará um livro real. Gosto do cheiro, do toque, até do barulhinho do virar das páginas...
Beijos e boa noite.
Ri simplesmente. Pela simplicidade da tecnologia. Simplicidade (praticidade) que muito nos tem faltado...
ResponderExcluirPelo fato de que, superado o culto exagerado daquilo da moda e da publicidade, os leitores eletrônicos podem ser um importante meio de tornar mais acessíveis os conteúdos culturais, não apenas na linguagem textual, mas audiovisual em geral.
ResponderExcluirAcredito, no entanto, que o grande potencial dos leitores eletrônicos será realizado na medida em que superarmos o atraso da atual legislação de direitos autorais (leia-se editoriais).
A possibilidade de cópia de um dispositivo para outro, o "remix" de conteúdos, etc... Tudo isso pode tornar interessante o leitor eletrônico, pela sua leveza e portabilidade.
No caso do Brasil, ainda temos que superar a dependência de importação para equipamentos de informática.
Quanto à nostalgia de virar as páginas, talvez quando os livros em rolo (da época romana) foram abandonados, outros devem ter se lamentado.
De qualquer forma, gostei da reflexão. Pois tudo o que lemos sobre essa novidade é deslumbramento e consumismo.
Visão de historiador é outra coisa, né?
Abraços, colega.