segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Agrupamento de partículas




"Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante. E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim - dizem - recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos e ai estou pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho.
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra. Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela"

Com esse trecho declamado por Elis no show Falso Brilhante (não tenho a referência exata, mas acho que foi nele, mas não sei se a autoria é dela ou de outra pessoa, tanto faz), encerro provisioriamente o capítulo da ilusão de celebridade em nossa cultura (Hannh Arendt fala disso com propriedade ao analisar o mundo antigo). O show foi em 1976. Cinco anos depois a cantora morreu. O sangue já havia escoado de suas veias, ela estava esbelta de cocaína. Elis se rebelou contra tudo e todos. Tinha plena consciência de que sua arte era a única coisa que valia a pena, mas que sua figura era consumida, tanto que também acabou consumindo droga para sobreviver.
Gostaria de ter postado a imagem do show, mas não consegui descobrir na rede. Na minha sala tenho o poster com a foto e o texto: Elis de braço levantado, soberbamente terminal. Sempre quando passo diante dele presto minha homenagem.
Para Moacir, Camila e todos aqueles que suportam ler estes rascunhos sem sentido e sem luz.

Um comentário:

  1. ... aí vem você com esse texto/fala/desabafo pungente da Elis – “um soco no estômago”! Fiquei exaurida. Parafraseando Drummond: eu não devia te dizer, mas [esse texto] me botou comovida como o diabo.

    ResponderExcluir