terça-feira, 29 de setembro de 2009

Vagas para mestrado e doutorado

Professor com larga experiência no mercado acadêmico, interessado em dar um up grade em sua carreira, seleciona candidat(a)os para orientar. Poderão inscrever-se pessoas que apresentem e comprovem, pelo menos, uma das seguintes condições:

  • traumas graves na infância ou na adolescência, com potencial para sublimá-los artística ou cientificamente;
  • estágio de meditação em montanhas do Tibet de, no mínimo, um ano de duração;
  • experiência de trabalho de dois anos em fazendas, fábricas ou minas de carvão; 
  • permanência (indeterminada) na Fundação Casa (antiga FEBEM) ou em penitenciárias;
  • revoltados de toda espécie
Serão dispensados, a priori, caxias, repetidores de fórmulas ou teorias, dependentes do uso de celular, leitores de Veja, Caras e Crepúsculo, bombados e bombadas, aspirantes a modelo, direitistas empedernidos.
Os canditados deverão apresentar, no ato de inscrição, um paper a propósito do seguinte trecho musical de Adriana Calcanhoto:

"Gosto dos quem tem sede
dos que morrem de vontade,
dos que secam de desejo,
dos que ardem".


9 comentários:

  1. Pegou pesado! O pessoal que gosta de pesquisar sobre cemitérios vai te colocar na lista negra!Valeu o desabafo.

    ResponderExcluir
  2. então..
    aceita-se orientador somente pela seguinte condição: que saiba enxergar na insanidade de um Maiakovski um ímpeto de coragem.

    segue abaixo um dos melhores textos que já li..
    vale muito a pena ler novamente.

    A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha

    A tarde ardia em cem sóis
    O verão rolava em julho.
    O calor se enrolava
    no ar e nos lençóis
    da datcha onde eu estava,
    Na colina de Púchkino, corcunda,
    o monte Akula,
    e ao pé do monte
    a aldeia enruga
    a casca dos telhados.
    E atrás da aldeia,
    um buraco
    e no buraco, todo dia,
    o mesmo ato:
    o sol descia
    lento e exato
    E de manhã
    outra vez
    por toda a parte
    lá estava o sol
    escarlate.
    Dia após dia
    isto
    começou a irritar-me
    terrivelmente.
    Um dia me enfureço a tal ponto
    que, de pavor, tudo empalidece.
    E grito ao sol, de pronto:
    Desce!
    Chega de vadiar nessa fornalha!

    E grito ao sol:
    Parasita!
    Você aí, a flanar pelos ares,
    e eu aqui, cheio de tinta,
    com a cara nos cartazes!

    E grito ao sol:
    Espere!
    Ouça, topete de ouro,
    e se em lugar
    desse ocaso
    de paxá
    você baixar em casa
    para um chá?

    Que mosca me mordeu!
    É o meu fim!
    Para mim
    sem perder tempo
    o sol
    alargando os raios-passos
    avança pelo campo.
    Não quero mostra medo.
    Recuo para o quarto.
    Seus olhos brilham no jardim.
    Avançam mais.
    Pelas janelas,
    pelas portas,
    pelas frestas
    a massa
    solar vem abaixo
    e invade a minha casa.
    Recobrando o fôlego,
    me diz o sol com a voz de baixo:
    Pela primeira vez recolho o fogo,
    desde que o mundo foi criado.
    Você me chamou?
    Apanhe o chá,
    pegue a compota, poeta!

    Lágrimas na ponta dos olhos
    - o calor me fazia desvairar, eu lhe mostro
    o samovar:
    Pois bem,
    sente-se, astro!

    Quem me mandou berrar ao sol
    insolências sem conta?
    Contrafeito
    me sento numa ponta
    do banco e espero a conta
    com um frio no peito.
    Mas uma estranha claridade
    fluía sobre o quarto
    e esquecendo os cuidados
    começo
    pouco a pouco
    a palestrar com o astro.
    Falo
    disso e daquilo,
    como me cansa a Rosta²,
    etc.
    E o sol:
    Está certo,
    mas não se desgoste,
    não pinte as coisas tão pretas.
    E eu? Você pensa
    que brilhar
    é fácil?
    Prove, pra ver!
    Mas quando se começa
    é preciso prosseguir
    e a gente vai e brilha pra valer!¿
    Conversamos até a noite
    ou até o que, antes, eram trevas.
    Como falar, ali, de sombras?
    Ficamos íntimos,
    os dois.
    Logo,
    com desassombro
    estou batendo no seu ombro.
    E o sol, por fim:
    Somos amigos
    pra sempre, eu de você,
    você de mim.
    Vamos, poeta,
    cantar,
    luzir
    no lixo cinza do universo.
    Eu verterei o meu sol
    e você o seu
    com seus versos.

    O muro das sombras,
    prisão das trevas,
    desaba sob o obus
    dos nossos sóis de duas bocas.
    Confusão de poesia e luz,
    chamas por toda a parte.
    Se o sol se cansa
    e a noite lenta
    quer ir pra cama,
    marmota sonolenta,
    eu, de repente,
    inflamo a minha flama
    e o dia fulge novamente.
    Brilhar para sempre,
    brilhar como um farol,
    brilhar com brilho eterno,
    Gente é pra brilhar
    que tudo o mais vá prá o inferno,
    este é o meu slogan
    e o do sol

    ResponderExcluir
  3. Antoine Prost afirma que o historiador acaba se confundindo com seu objeto. Celso, vc está oswaldiano...
    Como é que se pode escolher os orientandos? Que forças anárquicas podem levar a academia a repensar seus projetos e critérios? A Capes, o CNPQ, a Fapesp, estão preparados para os seguidores desse novo Miramar??
    Continue com seus dentes de dragão afiados!
    Seu amigo,
    Marcelo L Mahl

    ResponderExcluir
  4. Meus caros Márcia Barral (a invencível), Diogo e Marcelo:
    estas provocações fazem parte do meu estilo tardio, como já disse na primeira matéria do blog. Numa certa idade, nos sentimos livres para projetar nossos sonhos, desencatos e utopias. Pode não ser ao pé da letra, mas contém muito de verdade. Como é que se pode pretender fazer ciência ou arte sem ter enfrentado alguma experiência significativa de vida? Os maiores pensadores disseram isso, não sou eu quem diz. Só quem desce aos infernos ou sobe ao céu, sem cordas pra segurar, só quem comeu o pão que o diabo amassou pode se humanizar e fazer alguma coisa de útil para a humanidade. Pretensão? Não creio. Verdade banal.
    A propósito, Diogo, estou lendo uma biografia desse grande Maiakovski, o poeta da revolução, um visionário. Temos pontos em comum.

    ResponderExcluir
  5. “Ora, o que estou chamando de marca são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são sempre gênese de um devir. (...)
    (...) se a marca coloca uma exigência de trabalho que consiste na criação de um corpo que a existencialize, o pensamento é para mim uma das práticas onde se dá esta corporificação. O pensamento é uma espécie de cartografia conceitual cuja matéria-prima são as marcas e que funciona como universo de referência dos modos de existência que vamos criando (...)
    Quando é assim que se faz o trabalho do pensamento, dá para dizer que só se pensa porque se é forçado a fazê-lo. O pensamento desta perspectiva, não é fruto da vontade de um sujeito já dado que quer conhecer um objeto já dado, descobrir sua verdade, ou adquirir o saber onde jaz esta verdade; o pensamento é fruto da violência de uma diferença posta em circuito, e é através do que ele cria que nascem, tanto verdades, quanto sujeitos e objetos. (...)
    Para praticar o pensamento deste modo, aquilo para o que temos de nos tornar dotados é, então, fundamentalmente, a capacidade de nos deixarmos estranhar pelas marcas (...). ‘A inteligência vem sempre depois , a inteligência só é boa quando vem depois’.”

    (Suely Rolnik - Pensamento , corpo e devir. Uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico).

    ResponderExcluir
  6. Estou encantada.

    Eu já cheguei a acreditar que professores acadêmicos não tinham sentimenos. (Brincadeira! - daquelas que tem fundo de verdade...)

    Disso tudo vejo aquele velho e necessário encontro de teoria e prática e não nessa ordem, pq na verdade deveria ser o contrário mesmo...(prática - teoria - prática...) Como discutir sociedade e seus males sem vivê-los?

    Nosso tempo, tvz só agora (e será que está mesmo???...), embora muitos ainda insistam, está deixando a perspectiva, o distânciamento do objeto, para se misturar com ele. Muito tardiamente, como sempre, em relação à arte.

    Tvz seja pq não dê mais tempo de se distanciar, essa velociadade de mudanças...

    ResponderExcluir
  7. Caríssimo,

    Estava sumido por um tempo, mas estou sempre nas vizinhanças, a espreita, e como é bom encontrar algo que não se procura, mas se procura!
    Peço tua autorização pra colocar no blog ao qual contribuo aperiodicamente.

    Grande Abraço!

    ResponderExcluir
  8. Sr. Anisio

    Vou cobrar direitos autorais, mesmo assim, gde. abraço

    ResponderExcluir
  9. Depois de tanto tempo, encontro esse historiador que o tempo o fez se colocar à vontade para dizer, o tempo todo, o que pensa, sem medo!
    Ah, o tempo! Tempo real, tempo presente já passado, tempo futuro! Tempo e História! A memória?
    Nietzsche e a a-história que, forma e outra, pode afastar a dor das lembranças!? Considerava que "o excesso de história" parecia "hostil e perigoso à vida", limitador da ação humana, inibindo-a.
    Anarquista, gracias a la vida, não posso citar a fonte, agora. E depois? O tempo real...

    ResponderExcluir