sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Enquanto tomo fôlego...

faço um pequeno balanço desta experiência de pouco mais de um mês do blog. Até pouco tempo atrás, quase nada entendia das possibilidades do mundo virtual. Não quero me tornar um navegador compulsivo nem um otimista irrecuperável, mas a coisa vicia e ilude.
Ainda nos anos de 1970, creio eu, antes da internet ser conhecida no planeta, e quando a principal novidade internacional era a televisão, Umberto Eco já falava de duas posturas intelectuais diante dos modernos meios de comunicação: os apocalípticos viam neles o prenúncio do fim da cultura; os integrados deixavam-se levar por suas ondas sem qualquer reflexão crítica. Qual a saída? Nem uma nem outra, mas aceitar o que vem e fazer dele bom uso.
Estou na fase de certo encantamento, um tanto integrado, especialmente porque posso ter contato quase instantâneo com os amigos que cada vez mais chegam. Gostaria de responder a todos, debater, criar um forum nesta página. Mas acontece que os comentários são prá lá de bons: Diogo, Camila, Moacir, Tauamg, outros aos quais me referi antes, aqueles que me enviam emails, enfim, sintam-se à vontade, esta página é também de vocês.
Para mim o blog ganhou um significado especial. De um lado ele me proporciona algo que sempre persegui: gosto de descarregar rapidamente as idéias e as emoções, não me agrada carregá-las anos a fio. É, portanto, diferente da experiência do pesquisador e do autor de livro. Claro que não diria o que aqui falo exatamente da mesma maneira se estivesse escrevendo um trabalho como historiador.
Mas esse satisfação imediata é também interessante, as idéias fluem, jorram, tentam se conectar com outras vindas do saco sem fundo virtual . É uma espécie de satisfação ((gozo) distinta do trabalho intelectual propriamente dito. Parece mais com a situação em sala de aula (da qual estou momentaneamente afastado). Aliás, penso que a educação daqui para frente terá de ser em parte virtual, não evidentemente para economizar custo com professores, mas para ampliar as possibilidades de contato para além dos muros da escola (falando nisso, vocês viram Entre os muros da escola? Excelente filme).
Gosto também das idéias articuladas às práticas - assim respondo ao Tauamg. Gosto de entrar e sair das estruturas, explorar seus meandros, ir até os limites e depois deixá-las à procura de outras. Não me deixo seduzir por elas, nem a elas me subordino. Sendo um pouco otimista, blogs talvez sejam novas estruturas com virtualidades e impossibilidades. Temos de estar dentro e ao mesmo tempo fora. Integração e distanciamento.
Tenho mil temas já engatilhados para tratar. O próximo será a respeito das origens da nossa sociedade do espetáculo, conforme Debord, ou da cultura do narcisismo, conforme Lasch, ou do homem unidimensional, todos estas definições apropriadas, cada uma contendo uma parte do que somos hoje. Mas não abandonarei assuntos mais urgentes, como o da educação, ou aqueles do meio historiográfico, anunciados como exorcismos - ou ainda processos catárticos, no sentido grego. Antes, tenho de tomar fôlego como faço agora.
Vejo no alto da página os logos dos meus seguidores. Que palavra imprópria. Ou melhor, tão característica do agora humano. Tenho explorado o twitter. Lá, as pessoas seguem as outras à procura de que? Sei que umas seguem celebridades, em busca de alguma idenficação perdida ou nunca auto-construída. Numa pesquisa a esmo, digitei as palavras educação, historiografia, debate intelectual, filosofia. Nada encontrei. Pensei em algum nome conhecido e respeitado de intelectual: escrevi Marilena Chaui, mas ela nunca foi mencionada no twitter. Que droga! Tirante os seguidores de celebridades, a palavra se refere aos discípulos de líderes messiânicos. Talvez esta seja uma saída, pois a lógica é a mesma. Além do mais, as novas seitas são extremamente modernas porque também oferecem essa espécie de auto-ajuda, que é seguir o Cristo espetacular. Outro assunto engatilhado, aguardem!
Apesar disso, confesso que fiquei um tanto entusiasmado em ter seguidores, embora eu os conheça um por um e saiba que nenhum deles tem o perfil de identidade atrofiada acima descrito. Cada um tem idéias próprias e me orgulho de tê-los nesta página.
Li outro dia uma crônica bem-humorada de Zeca Baleiro sobre a internet. Ao terminar seu escrito, depois de descrever sua experiência como blogueiro, ele fechou com esta máxima: Não me sigam que não sou novela. Meu lado crítico diria o mesmo. Esqueço-o rapidamente e me rendo ao lado emocional e militante, que reclama a presença dos outros comigo, sem distinção. Eu também sou seu follower.

8 comentários:

  1. Despois de discussões ferrenhas na sala da graduação, eu, sua seguidora?!...

    Dessas ironias que a vida nos prega!...

    O meu estado hoje é um tanto quanto "off-line" dessas discussões acadêmicas. Não que elas não me atormentem, mas não consigo formatá-las e redigi-las, colocá-las pra fora com algum sentido.

    Nesse momento recém-formada, no qual se tem mil idéias e possibilidades, recém-integrada ao mercado de trabalho, tudo é muito turbulento.

    O mais engraçado é que criou-se na minha cabeça essa oposição: academia x trabalho = realidade virtual x realidade realidade!

    Fazer mestrado, ganhar uma fapesp e continuar nesse mundo de congressos e chá das 5h ou trabalhar e estar no meio do que a sociedade realmente vive, não a distância fazendo análises dela...

    (Não desmerecendo os caros colegas acadêmicos e seu trabalho, mas, a academia sendo elite, foi o que te disse no meu primeiro comentário: o academicismo não sai da academia!...)

    Hoje me divirto, ao menos, vendo os profissionais de dentro como vc ensaiando suas críticas a fôrma estabelecida. É um ótimo começo! Então, só por ter saído de lá de dentro dos congressos, publicações, de dentro do formato tradicional, ter aberto a discussão sem precisar "se inscrever na mesa" primeiro,fica difícil um comentário que não seja bom...

    Lendo-te, lembrei de um comentário do professor Foot, de teoria literária, da Unicamp, fazendo uma crítica da minha área, e dizendo que as Letras ainda não saíram das Belas Artes e que, enquanto a Reitora da Usp diz que seu autor preferido é Paulo Coelho e o Marcola diz que adora Dante, há algo de podre na acadêmia!!!...

    Então, respira fundo e não para não!!!...

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  2. P.S.: quando falo de trabalho, não me refiro a esse formato seg à sex, 8h à 17h... Digo sobre não estar circulando nesse mundo acadêmico, pesquisas (algumas um tanto quanto inúteis...), publicações, congressos... Fôrmas...
    Digo sobre a mão na massa dessas tantas teorias. O contato/discussão com as pessoas fora do meio.

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  3. Legal você fazer esse balanço porque tenho a oportunidade de parabenizá-lo pela iniciativa, sem parecer puxa-saco. O mundo virtual, com algumas ressalvas, é real e possibilita coisas muito interessantes, como esta de compartilhar idéias com pessoas que estejam a fim, sem pensar que os blogs não contam pontos para o relatório CAPES. Sem glória, sem pontos, só com a vontade de criar novos territórios e possibilidades de reflexão/ação, partindo do princípio de que pensamento é criação e as idéias podem contaminar e recriar mundos...
    Você está se saindo um ótimo blogueiro, pode crer!

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  4. Ju Almeida,
    Tomei a liberdade de comentar o seu comentário, porque é de uma precisão única para descrever o estado de quem sai da faculdade e cai "no mundo real"!
    Parece que você fica cindido, pois a sensação é de que foram quatro anos aprendendo coisas que "não servem para viver os dias"! Aliás, de vez em quando, atrapalham. Quando terminei a faculdade, me lembro de pensar comigo mesma - agora vou viver um pouco - parece teatro do absurdo, mas é verdade! Quando fui para a sala de aula: "agora preciso desaprender tudo, porque aqui a coisa é outra". Ainda não saí da crise, mas acho imprescindível vivê-la. Se voltasse para a universidade hoje trabalharia muito para devorá-la no sentido antropofágico mesmo. As coisas continuam as mesmas porque é sempre mais fácil a gente seguir os mapas prontos que já fizeram por nós, então a gente acha os esquemas da universidade perversos, mas quer fazer igual. As crises nos obrigam a criar outros contornos e é aí que se pode fazer a diferença! Já reparou que tem gente que não se indaga nunca?! Que sempre arranja um jeito de justifcar o estado atual das coisas? Um brinde à crise!

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  5. Olá, Antonio Celso,
    Feita uma leitura tardia e um pouco dinâmica de seu blog termino o dia satisfeita com os pares. Pretensão de minha parte, é claro, vê-lo como um par - já que ainda tenho muito arroz com feijão pela frente. De um modo ou de outro, a espetacularização do ensino também me angustia. Todavia a postura apática e acomodada da maior parte dos colegas de profissão é motivo de igual, ou maior, transtorno. Fala-se mal do ensino a distância, por exemplo, recorrendo-se a todo tipo de lugar comum; mas o fato de pensadores como vc se valerem de meios como um blog denuncia o lugar que as novas tecnologias ocupam em nossas vida...ora, já nos educamos a distância, ainda que não oficialmente, então, por que não pensarmos sobre o assunto? Enfim, gostaria de lançar esse tema para debate, gostaria de ler sua opinião. Abraços e vida longa às impertinências!

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  6. Os comentários nesta parte são muito estimulantes. Ju, creio que é possível estar dentro da academia e fazer algo importante. Não se trata de abolir a academia, mas de torná-la parte da vida que tb rola fora do campus. Eu já pensava assim qdo era diretor, no entanto, os limites de atuação que o cargo impõe são muito fortes. Hoje me sinto melhor, mas apenas criticar sem sujar as mãos não acho que signifique alguma coisa. Ju e Camila, emora a academia seja tb parte do mundo real, parece estar hoje dele alienada, por isso o estupor que toma conta de nós qdo começamos a trabalhar. Qdo terminei a graduação em Brasília e vim p. SP trabalhar (em supletivos, cursinhos, fui professor do Estado 5 anos), senti a mesma coisa. Acho vital a experiência no magistério secundário.
    Finalmente, Maria Renata, foi gde surpresa sua presença no blog. Concordo com seus comentários e espero que continue enviando colaborações. Quanto ao ensino a distância, penso que a universidade ainda não discutiu o assunto e quando o admite é apenas para as licenciaturas, para baratear o custo da formação de professores. Acho que realmente temos de discutir o tema.

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  7. Às vezes me iludo com as possibilidades dionisíacas da rede; da indistinção, da corrosão da autoria. Parece que a super abundancia de tudo (pelo menos virtualmente... o trafego infinito da informação) coloca em risco a propriedade, ou pelo menos (talvez, por enquanto, sendo otimista) a propriedade intelectual. Nos tornamos uma multidão anônima e telepática, o que é bom. “Cada vez mais podemos fazer e dizer qualquer coisa, porque fará cada vez menos diferença”.
    Ao mesmo tempo vejo resistirem firmemente a propriedade, as hierarquias, as desigualdades. Cada vez mais encarniçada se torna a luta pela existência (material e simbólica). Exemplo a ânsia em ser celebridade ou segui-las (como bem disse), estar ao seu redor como para salvar-se da própria mediocridade, da sensação de ser desimportante, descartável.
    Com a riqueza produz-se também a miséria. E ainda nos bestificamos quando vemos com que violência reagem aqueles que sofreram a rejeição... àqueles que essa mulher caprichosa, que é a sociedade burguesa, negou seus agrados.
    As idéias são o ganha-pão acadêmico.
    Esperamos que as idéias nos rendam honorários e títulos... distribuindo-as gratuitamente em um blog, você não sente medo de que se apropriem delas?

    ... deixa eu assinar, vai que... Tauan Mateus Gobbi Grossi
    Também sou um faminto... nem tanto de pão (inseguro em relação ao pão)... faminto de reconhecimento. Virtualmente faminto, mas também vocês que me lêem... famintos

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  8. Ãh! Ainda guardo minhas utopias! Como essa de me engajar para que a academia deixe essa "ansiedade de contaminação" (acho que é este o termo usado, não lembro se em "as representações do intelectual" ou se em "o social e o político na transição pós-moderna".

    Mas acho que esse caminho é muito saudável, experimentar o magistério (no nosso caso,que nos referimos a cursos de licenciatura). Hoje me parece estranho esse caminho curto até a pós, e ao mesmo tempo por vezes vazio. Não entendo como alguém pode se formar, ir direto para o mestrado e logo a seguir para o doutorado e depois (ou, muitas vezes antes...) ir para sala de aula de um curso de licenciatura sem nunca ter descoberto o que é uma sala de aula antes. É como um professor de um curso de Direito ir para sala da São Francisco sem nunca ter estado numa causa, ou um engenheiro nunca ter feito um projeto...
    Acho que a nossa área é a única que aceita isso, porque no fundo achamos insignificante ser professor secundário (e não estou falando só de estar na escola publica, falo de "qualquer" curso, essa questão da escola publica é importante, mas não é o enfoque do que quero dizer agora), ou seja, ter experiencia de sala de aula com pessoas de outro perfil.
    O engraçado é que às vezes acho que tem muita gente nas humanas que gosta muito pouco do ser humano!!!...
    Mas minha crítica no fundo é uma angústia, gostaria muito e pretendo traçar o caminho acadêmico, mas tenho a sensação de que a acadêmia quer te engolir, ou te expelir quando você não se deixa engolir, o que significa hoje, com a pouca participação que os nossos cursos tem na sociedade (digo os cursos mesmo, a universidade e seu corpo, não os que por meio dela se formam...), estar num "universo paralelo". Enfim...

    Uma curiosidade: Antonio Celso, quantos colegas seus passaram pelo magistério secundário?

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