O caderno Cultura, do Estadão deste domingo, publicou um dossiê sobre os 70 anos da morte de Freud, com artigos de psicanalistas brasileiros como Joel Birman, Maria Rita Kehl, Renato Mezan e Luiz Alberto Hanz, além de uma entrevista com Elisabeth Roudinesco, historiadora e psicanalista francesa sempre instigante.
As matérias fazem justiça ao pensador de maior audácia e originalidade do século XX, cuja obra os teóricos conservadores tentaram demolir em avalanches sucessivas, sobretudo, nas três últimas décadas. Sob distintos pontos de vista, os articulistas conseguem demonstrar os fundamentos mais do que nunca vivos do explorador do inconsciente, a despeito da crescente biologização de todos os saberes atuais - da psiquiatria às humanidades. E a despeito ainda da formatação de um novo tipo humano, não mais sujeito às interdições e repressões da época de Freud, mas constrangido a viver em estado permanente de gozo na sociedade dos narcisos, e que constitui o desafio da psicanálise contemporânea.
Roudinesco, especialmente, ressalta a força das idéias de Freud no cenário atual, ao contrário do que se costuma imaginar em nosso tempo de desconstrução avassaladora. Para ela, o pensamento da rebelião, representado tanto pelo criador da psicanálise quanto por Marx, retornará como uma via incontornável de combate à sociedade de consumo (incluindo o consumo do ego), depurado dos dogmatismos paralizantes. Oxalá a historiadora esteja certa, e que seja possível reflorestar a terra queimada da nossa cultura universitária, tecnocientífica e midiática.
Hanif Kureisch, um dos raros representantes do que ainda poderia ser chamado hoje de literatura, confessa no seu livro Tenho algo a te dizer, que a psicanálise o salvou dos processos dissolventes vividos por sua geração (que é a minha), lhe propiciando o caminho da criatividade. Eu, que passei os dois últimos anos mergulhado no estudo de textos psicanalíticos, também tenho o mesmo sentimento.
Eu vivo num estado de coisas narcísicas. Vivemos num estado de coisas narcísicas.
ResponderExcluirEnquanto somos objetos pensantes e não sujeitos-objetivados somos obrigados a apelar para um estado que para exergar nós mesmos usamos e abusamos de narcisismos. É triste admitir, ainda mais eu que nem sei se já cheguei a 1/3 da minha vida, que isso me deixa cego e perplexo.
Não conheco Freud, exceto pela parte sobre a cocaína, mas pelo pouco que ouvi dele suas teorias são constantemente desconstruídas, valha-me Deus, meus amigos que cursam psicologia querem desconstruí-lo sem ao menos lê-lo. É o mesmo que Marx para a nova safra de "pseudo" historiadores, dizem que é ultrapassado, que as ídéias não cabem mais, que isso e que aquilo.
Isso para não falar no ASSASSINATO das Utopias de Paulo Freire, pode isso?
Demorei para me convencer da importância do Freud e da psicanálise - resistência?! Hoje, admito e brado pela força de suas idéias, por questão de sobrevivência: sim, Freud explica, embora a expressão seja dita para esvaziar o seu significado! Ouso afirmar que ficamos existencialmente mais pobres tentando, em vão, ignorá-lo! A. Celso, gostaria muito que você sugerisse umas leituras, já que você tem se interessado pela psicanálise. Se não por aqui, pelo meu e-mail: camilamatheus@bol.com.br
ResponderExcluirObrigada!
Os críticos de Freud e Marx buscam a teologia, ambicionam encontrar um porto seguro intelectual com respostas prontas e válidas indefinidamente. São os arautos do ancronismo, cuja a aversão a reflexão sobre as contradições gera pseudo análises históricas e sociais.
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