quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O novo ensino médio não nos diz respeito

Dentre o quase nada publicado na imprensa sobre a educação brasileira, merece atenção a matéria Revolução na Escola, encontrada no último número de Isto É, com direito à chamada principal na capa da revista. A reportagem traz algumas informações esclarecedoras sobre as mudanças projetadas para o ensino médio pelo MEC, principalmente com o novo ENEM e a reforma curricular das escolas.
O primeiro exame do ENEM  sob esse formato já está ai, com muitas adesões das universidades e grande expectativa dos alunos. Desde a reforma universitária de 1969, que assentou as bases para o perverso sistema de vestibular ainda vigente e para a enorme capitalização do setor privado do ensino, trata-se da primeira iniciativa consistente de mudança (veja neste mesmo blog matéria sobre o assunto: O show milionário da educação).
Da mesma maneira, o projeto de mudança curricular para o ensino médio, tem como objetivo superar a atual fragmentação das disciplinas e a sobreposição dos programas de vestibular que desestimulam a reflexão e a formação integral do estudante. Quem diz isso, aliás, é o próprio Ministro da Educação Fernando Haddad, em entrevista reproduzida na revista.
É sintomático, no entanto, que a matéria também contenha vários depoimentos de diretores e proprietários das mais afamadas escolas privadas em favor das medidas governamentais. Já se nota que o setor educacional privado, o mesmo que formatou o vestibular, tenta sair na frente e se mostrar como aquele que possui as melhores condições para enfrentar os desafios de uma educação para o futuro, transdisciplinar e reflexiva. Será? Até mesmo os velhos cursinhos, com seus macetes, dicas e decorebas também tentam parecer vanguardistas, pelo menos nos outdoors.
Vale conferir o que virá daqui em diante. Terá o governo federal condições para implementar reformas profundas no ensino público, que valorizem realmente o professor, promovam sua formação e atualização e ainda melhorem o ambiente das escolas? Em tese, é o que se projeta alcançar até 2022.
Nesse interim, porém, há o fator 2010 que nos coloca diante de duas alternativas: a continuidade de um projeto que, apesar de tímido, tocou em alguns pontos essenciais do nosso dilema educacional, ou a indigência da política tucana para a área, exemplificada pela deterioração completa do ensino público paulista.
No que nos diz respeito, os professores universitários passam ao largo do assunto, concentrados como estão no seu mundo fake. A mesma coisa ocorre na nossa mais importante associação profissional, hoje transformada em supermercado do miserável mercado acadêmico. Mas, se a esperança é a última que morre, que nessa treva surja alguma luz!

4 comentários:

  1. “Terá o governo federal condições para implementar reformas profundas no ensino público, que valorizem realmente o professor, promovam sua formação e atualização e ainda melhorem o ambiente das escolas?”
    Espero que o ministro tenha se colocado essa pergunta também! Pois tenho calafrios quando vejo as propagandas veiculadas na TV ultimamente, convidando a quem interessar possa a “ser professor”... Parece comercial de margarina “família feliz” ... Ainda bem que ninguém se ilude mais, pois todos sabem das mazelas do Ensino Público e de como é difícil e pouco recompensador ser professor. Pior mesmo só ser aluno no século XXI!
    O Estado de SP prima por mexer na cereja do bolo e culpar os professores pela indigestão dos péssimos índices. Os professores culpam o Estado, os alunos se esqueceram de culpar alguém e “Lili casou-se com J. Pinto Fernandes” que não sabia ler nem escrever...

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  2. A indústria cultural fabrica o próprio sucesso, afirmava Adorno. O sistema de ensino privado que privatiza o lucro e socializa os custos ( insere a elite do país nas universidades públicas) busca adequar-se as mudanças propostas para a seleção dos vestibulandos. A questão fundamental é tornar público o sistema estatal de ensino. Priorizar a reflexão interdisciplinar e multidisciplinar é urgente, entretanto garantir a educação ativa significa criar condições de acesso para os alunos da escola pública. Sem essa medida as alterações propostas não vão combater as distorções do ensino superior. Penso, inclusive em medidas radicais como instituir a continuidade da contribuição financeira para o aluno egresso do sistema privado, afinal muitos pais financiam 10 anos ou mais de aprendizagem a um custo mensal superior a mensalidade das instituições superiores. E também a adoção de cotas sociais para garantir, no mínimo, a presença na universidade pública de 50% dos alunos com origem no ensino público. A longo prazo pode ocorrer a necessária e estratégic valorização do ensino público e republicano.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. A presença intelectual influente na escola, creio, é ínfima. Tanto é que o máximo que alguns "professores universitários", para não dizer pesquisadores profissionais, não mantém o diálogo com o ensino, pelo menos o ensino público, nas matérias em que ministram.
    Até consigo digerir que seu discurso de "isso não faz parte da nossa discussão, ou, realmente é um problema", essa coisa fatídica, que o que está aí está Realmente aí e é impossível de ser mudado. Mas, até quando?
    Se o grupo que é porta-voz do nossos "caros amigos" colegas professores Universitários de História não se manifesta, quem mais? O aluno que dá graças a Deus de não ter aula à noite porque trabalhou o dia todo? Ou aquele diretor de Confiança que terminará sua gestão em 4 anos quando houver uma nova eleição?

    Tudo bem não ser a culpa de ninguém ou não haver responsáveis, mas até quando?

    É isso aí, vamos em frente que atrás vem gente!

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