A Praça da Sé passou a ser meu observatório do mundo. Vivo aqui entre palavras impressas, algumas falantes, a maioria mudas. É na rua que reencontro a vida como ela é, aquela que nenhum livro exposto na vitrine é capaz de dizer plenamente.
Rodela consegue fazê-lo, por isso está sempre cercado por uma pequena multidão. Gente que pouco lê, a não ser os anúncios de emprego nas costas dos homens-sanduiche, o último lance do seu time, a mensagem na tela do onipresente celular ou a notícia sobre o Ratinho pendurada na banca de jornal.
Rodela também fala frequentemente do Ratinho em seus espetáculos improvisados na praça. Na conversa simulada do seu imenso celular com os parentes do nordeste, conta que foi despedido do programa do apresentador e agora ganha o pão na rua. Mas seu desejo é voltar para o mundo da televisão.
O mundo real é apenas uma espera para algum tipo de redenção na telona, no paraiso, ou nos dois. Como, aliás, para todos à sua volta. O mundo real parece com sua cara feia que é meio de expressão do grotesco da pobreza. Do pedreiro, do ladrão, do nóia, do office-boy, do policial, do lixeiro, da faxineira e da empregada das Lojas Americanas. Travestido de mulher, ele se contorce, se deforma, se mutila. Provoca a gargalhada dos que nele não se querem ver refletidos, embora saibam que, descontado o exagero, são eles mesmos ali figurados.
Eu também quase sempre paro para vê-lo, é irresistível. Mas não creio que na alma encantadora das ruas possa encontrar algum segredo da beleza ou da pureza original da humanidade. Rio sem redenção.
Ninguém gosta desse mundo bizarro que vivemos... (muito ruim minha generalização???...) Seria por isso que vivemos essa era da positividade, dos pensamentos positivos: Pense positivo! Ame a vida que tem! Você faz sua história!...
ResponderExcluirPegar o trem lotado de São Paulo toda manhã me faz ter uma boa idéia do que a maior parte da população vive e entender pq uma boa parte dele 9no contexto de São Paulo) sonha primeiro em conseguir comprar seu carro com ar-condicionado!...
enfim... o que eu queria dizer era sobre a observação de A. Celso. Parar, ouvir e olhar um pouquinho esse espetáculo à nossa volta é um tanto... sei lá... constrangedor, assustador, bizarro... sei lá... acho q to sendo redundante, afinal, acho q isso já deve ter passado pela cabeça de todos aqui... ou não?...
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