sexta-feira, 27 de novembro de 2009

De estupros e fantasias

O PIG (Partido da Imprensa Golpista), sigla já bastante conhecida na NET, não cansa de surpreender. Herdeiro direto da velha UDN, usa e abusa de todos os meios para achincalhar o governo, humilhá-lo, jogá-lo na lama. Excedeu todos os limites do aceitável, em matéria publicada hoje na repugnante Folha de São Paulo, cujo teor seria capaz de escandalizar até Carlos Lacerda, o corvo.
Antigamente, como leio na biografia de Castello Branco - escrita por Lira Neto -, os golpistas recorriam ao discurso anticomunista, típico da Guerra Fria. Apelam agora a um arremedo infame do moralismo politicamente correto, que se presta bem ao sensacionalismo marrom. O ventríloquo dos golpistas é, mais uma vez, César Benjamim, obscuro e desequilibrado ex-militante de esquerda, justamente esquecido atualmente. Diz ele em seu artigo divulgado na folha repugnante que Lula lhe confindenciou, em 1994, haver tentado estuprar, durante seu período de prisão, um companheiro de cárcere, integrante do MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado.
A rigor, não vale a pena gastar espaço virtual com tal matéria barata, mas não posso deixar de expor minha indignação. Supondo que seja verdade, os envolvidos eram dois homens maiores de 18 anos, capazes de dispor das próprias vontades e de defendê-las. Conheci, à época, vários militantes do MEP, então nossos adversários políticos ou eventualmente nossos aliados, e não me lembro de haver entre eles nenhum sexualmente ingênuo ou submissso a qualquer tipo de violência. Mas prefiro ir por outro caminho: supondo que a confidência tenha ocorrido, deve ser debitada à língua solta de Lula (apesar de anatomicamente presa, e talvez por isso mesmo), sempre responsável pela veiculação de algumas bobagens entre muitas falas respeitáveis.
Estaríamos, assim, em pleno território da fantasia. Do machismo ao qual Lula não estava imune naquela época em que gay era viado e que o macho comedor não se via como homossexual. Lula talvez pensasse assim, era próprio da sua cultura migrante - e até da cultura militante e da cultura em geral-, o que não quer dizer que comeu de fato ou que estuprou o rapaz, já que este teria resistido. De lá para cá, certamente Lula aprendeu a ser mais contido e a usar politicamente sua espontaneidade, o que o tornou uma figura de grande popularidade e respeitabilidade.
Estou acostumado a ouvir (e tb a falar) coisas politicamente incorretas em mesas intelectuais quando já descontraídas depois dos rituais acadêmicos. Rimos de piadas de português, de judeus, de gays, sapatões, loiras e negros, às vezes contadas por acadêmicos  representativos desses mesmos segmentos.  Trata-se de auto-ironia e desrecalque, velhos expedientes conhecidos pelos mais primários freudianos.
Que mal isso faz, a não ser quando se torna objeto de manipulação pela ideologia nazista do politicamente correto ? Philipp Roth tratou brilhantemente desse mal no livro A marca humana, mas não acho que é exatamente disso que se trata entre nós. Aqui a coisa é mais rasteira: trata-se de mera instrumentalização de uma suposição fantasiosa pelo PIG, o partido da moralidade hipócrita, que usa dois pesos e duas medidas para tentar seus golpes, às vésperas da grande guerra que será 2010. Denuncia o mensalão dos outros e omite o próprio, oculta o filho bastardo de FHC, joga para debaixo do tapete o pó, que dizem, de vez em quando entra pelas narinas do belo e educado Aécio.
A verdade é que para a grande política não deveriam interessar as fantasias involuntariamente reveladas nas piadas ou nos chistes, nem as pulsões da nossa vida íntima, desde que saibamos nos responsabilizar por elas e não venhamos a comprometer a ordem social legítima. Imagem se o papa Bento XVI já não se masturbou pensando em alguma mulher ou homem? Que Serra não tem orgasmo com alguma imagem, sabe-se lá de que? Que a madre Teresa de Calcutá nunca sonhou com alguma forma de sexo?
O que importa, isto sim, são as realizações dos governantes e dos representantes do povo: destinam-se ao bem-estar coletivo ou aos interesses de grupo; são justas, promovem a solidariedade, o desenvolvimento e a igualdade social?  Estas devem ser as perguntas para julgar Lula.
Todo o resto pertence à esfera das fantasias que todos nós carregamos. Até mesmo às de César Benjamim, que empalado pela esquerda, de vez em quando volta a gozar com sua fantasia secreta concentrada no falo de Lula.  

3 comentários:

  1. Li a matéria publicada na Folha e fiquei surpreso com disponibilização de uma página inteira para a narrativa do César Benjamin. Penso que o debate político é prejudicado e que a adoção de dois pesos e duas medidas foi mais que oficializada hoje.

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  2. Celso, tenha paciência! Supor que seja verdade e, ainda, tentar justificar a suposição. É dar muita trela, a quem escreve uma sandice dessas:"Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.

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  3. Cesar Benjamin é uma pessoa mentalmente perturbada e ressentida. No fim das contas, uma vítima que foi utilizada pela Folha no seu joguinho sujo de enlamear Lula - o que ficou mais patente nas últimas semanas com a revelação da venda quase exequível do jornal em bancas e da queda de Serra nas pesquisas. No entanto, Otavinho está dando um tiro no pé atrás do outro. O episódio da Ditabranda, da ficha falsa de Dilma, do artigo fantasma de Serra sobre Ahmadinejad e agora disso vão minando cada vez mais o público de um meio de comunicação que, por si só, caminha para o desaparecimento - e não precisa de um Otavinho dando um baita de empurrão desses.

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