sábado, 14 de novembro de 2009

Zé Dirceu, o brilhante estrategista do PT





Escrevo com pressa e antes que minha autocensura funcione. Autocensura em termos: na verdade censura social, cultural, institucional introjetada. Imagino o que diriam beltrano e sicrana, com endereços, rgs e vínculos profissionais identificados e que logicamente nem cogitam entrar neste blog, se lessem estas linhas.
Vou falar, sim, de Zé Dirceu, que acabo de ver e ouvir aqui em Rio Preto, na comemoração dos 30 anos do PT, partido em que até agora sempre votei, mas do qual não sou membro. Vou falar, sim, sem me preocupar com o tom emocional e que se danem os que dizem que sou emocional. E vou falar, sim, sem me preocupar com as possíveis contradições da minha fala em relação ao saber acadêmico supostamente crítico.
Zé Dirceu foi e continua a ser o grande estrategista do projeto que o PT leva à frente. E exatamente por isso foi cassado, por nenhuma outra razão. Não adianta virem com outros motivos, seja de moralidade torpe ou de hipocrisia política. Mas nem essa injustiça mais flagrante foi capaz de fazê-lo baixar a crista. Zé Dirceu é da linhagem daqueles revolucionários dos velhos tempos: matreiro, cínico, lúcido, maquiavélico, inteligente, rochoso sem perder a maleabilidade da utopia socialista.
Zé Dirceu deu alicerce ao PT, controlou o PT mas sabia porque e para quê. Tinha estratégia. Foi acusado de bandido, criminoso, ladrão, amoral, enfim, tudo aquilo que poderia derrubar um fraco, não um homem que sabe o que se oculta sob tais epítetos numa guerra política. Sim, porque entre nós vivíamos (espero que o verbo esteja no tempo certo) uma guerra entre a direita secularmente empedernida e uma esquerda recentemente no poder, com suas fraquezas e virtudes. Como diz Lula, o que esteve em jogo na época do suposto mensalão foi uma clara tentativa de golpe para derrubar um presidente que atualizava o projeto interrompido em 1964.
Quem tiver a coragem de ouví-lo, de ler o seu blog e de se desarmar um pouco das autocensuras, saberá quais são suas idéias. Zé Dirceu não é um autor de livros, suas propostas estão ai, na prática política diária. Tem visão a longo prazo a respeito da questão tecnológica brasileira, dos nossos desafios energéticos, educacionais, sociais etc. Não é um obtuso, ao contrário, repensa o socialismo nos termos nacionais, continentais e globais, mas um socialismo conectado no mundo das conexões instantâneas. Preparou-se para isso no movimento estudantil, na clandestinidade, em Cuba, no parlamento e no partido. É respeitado dentro e fora do Brasil por empresários e governos. Tirou lições dos sucessos e derrotas.
Haverá o momento em que será feita justiça a Zé Dirceu. Não falta muito.



3 comentários:

  1. Parabéns Zé Celso, muitos pensam como tu, mas, nem todos tem os meios, e dos que tem, poucos são os corajosos. Zé Dirceu foi dado em sacrifício para amainar a fúria da besta pigueana e da oposição sem rumo.

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  2. Primeiro um elogio à coragem. Segundo, não consigo vencer minha autocensura ainda. Esse "ainda" tem mais a ver com a postura de Zé Dirceu e talvez menos com suas idéias, as quais diga-se de passagem não posso dizer que conheço claramente. Concordo com a idéia de que ele foi levado ao sacrifício e aceitou com retidão. Todavia, me lembro, e aqui já é um trabalho da memória, de ter ficado com a impressão do Zé Dirceu como rolo compressor: os “fins justificam os meios”. E aí acho que a coisa descamba, pois o projeto de poder parece se superpor ao projeto de nação. Dirão vocês, Camila, um copo de realidade, por favor! Sim, talvez me falte isso. Mas é o que espero do PT: um projeto de poder que não atropele a ética; uma conciliação que não implique em perda de ideais; um projeto de nação que não resulte em um Estado acima das pessoas; uma capacidade de articulação política que não destrua a função da política. Enfim, me proponho a acompanhar mais de perto o Zé Dirceu e quero muito mudar de idéia.

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  3. tudo pode justificar as ações do Zé Dirceu, mas uma coisa fica ainda sem resposta: porque ele teria aderido ao Dantas?

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