sábado, 13 de fevereiro de 2010

A nave fantasma

Inflamações
Travessias
Fantasmas

"Ora o mundo é irreal (...) ora ele é desreal (...). Não é (...) a mesma fuga da realidade. No primeiro caso, a recusa que oponho à realidade se pronuncia através de uma fantasia: tudo ao meu redor muda de valor em relação a uma função, que é o Imaginário; o enamorado se separa então do mundo, ele irrealiza porque fantasia de um outro lado as peripécias ou as utopias do seu amor; se entrega à Imagem, e em relação a ela todo real o incomoda. No segundo caso, perco também o real, mas nenhuma substituição imaginária vem compensar essa perda: sentado diante do cartaz de Coluche, não sonho (nem mesmo com o outro): não estou nem mesmo no Imaginário. Tudo está imóvel, petrificado, imutável, quer dizer insubstituível:  Imaginário está (passageiramente) excluído. No primeiro momento, sou neurótico, irrealizo; no segundo momento sou louco, desrealizo"
J. Lacan




"Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne o objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou o poeta (o recitante) apenas do começo; o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica"
R. Barthes

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