Desde a morte de Deus, no século XIX, Cristo vem sendo progressivamente despojado do seu império e reduzido à condição humana vulnerável e insatisfeita. Uma projeção do próprio homem que o criou e contra ele se rebelou. Não há saída, o criador sempre assassina sua criatura. Do vulto soberano de Cristo só restaram as imagens aterrorizantes de Mel Gibson e o Jesus eletrônico, terapeuta espetacular, na tela da Record a cada sexta-feira santa.
O simulacro da vida diária dispensa vidas tormentosas e mistérios gozozos. No mundo já revelado pelo indivíduo - e não por qualquer entidade suprassolar -, o gozo nada tem de sagrado, doloroso ou secreto. A não ser na pena de eventuais e solitários neo-evangelistas, do tipo Saramago, Pasolini ou Scorsese, que de vez em quando, ainda tentam cobrir de véus sua carne nua.
Nos rituais e discursos sobreviventes da Idade Média, o ser Cristo nascera na terra para experimentar e expiar os pecados da humanidade. Conservava-se, porém, acima de todas as tentações dos seres comuns, nós, que éramos, sim, os culpados da sua paixão. A partir dos tempos modernos não temos mais esse álibi: somos os responsáveis por nossas paixões, por nossos erros, por nossos pecados. E o próprio Cristo restou só, como todo homem.
Tal drama é retratado em três filmes, três diferentes interpretações do drama bíblico, todos fascinantes: O evangelho segundo São Mateus, de Pasolini (1964), Jesus Cristo superstar, de Ted Neeley (1973) e A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1988), baseado na novela homônima do grego Nikos Kazantizakis. O Cristo de Pasolini é revolucionário, como comunista era o seu inventor. O segundo é hippie, como era hippie a última utopia do nosso tempo. O terceiro é só um indivíduo, destronado de ideologias, cético das doutrinas, como é a nossa época. Cristo tornou-se, assim, apenas o espelho de determinadas circunstâncias históricas.
Prefiro o último Jesus, o Jesus das nossas tentações, mas não creio em sua salvação nem na nossa.
Nos rituais e discursos sobreviventes da Idade Média, o ser Cristo nascera na terra para experimentar e expiar os pecados da humanidade. Conservava-se, porém, acima de todas as tentações dos seres comuns, nós, que éramos, sim, os culpados da sua paixão. A partir dos tempos modernos não temos mais esse álibi: somos os responsáveis por nossas paixões, por nossos erros, por nossos pecados. E o próprio Cristo restou só, como todo homem.
Tal drama é retratado em três filmes, três diferentes interpretações do drama bíblico, todos fascinantes: O evangelho segundo São Mateus, de Pasolini (1964), Jesus Cristo superstar, de Ted Neeley (1973) e A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1988), baseado na novela homônima do grego Nikos Kazantizakis. O Cristo de Pasolini é revolucionário, como comunista era o seu inventor. O segundo é hippie, como era hippie a última utopia do nosso tempo. O terceiro é só um indivíduo, destronado de ideologias, cético das doutrinas, como é a nossa época. Cristo tornou-se, assim, apenas o espelho de determinadas circunstâncias históricas.
Prefiro o último Jesus, o Jesus das nossas tentações, mas não creio em sua salvação nem na nossa.
E o pior é que esta paixão ainda não terminou.
ResponderExcluirEle terá ainda que sofrer a verdadeira última tentação, a única capaz de redimí-lo. Para tornar-se efetivamente humano, deverá casar-se, ter filhos e trabalhar para lhes dar um futuro.