"Nada pode dispensar a vida de ser absolutamente apaixonante" (G. Debord)
Prossigo na necropsia dos incorformistas. O corpo/espírito do dia é Guy Debord (1931-1994), autor do célebre livro A sociedade do espetáculo (1967), que também será discutido no meu curso da pós-graduação. A leitura de sua obra, juntamente com a de pensadores vindos por outros caminhos - como Hannah Arendt, Paul Virilio e Jean Baudrillard (ver posts anteriores)-, possibilita compreender o mais corrosivo diagnóstico já feito da sociedade contemporânea.
Embora a procedência e a decorrência das idéias de cada um sejam muito diferentes, o quarteto coincide na visão de uma humanidade contemporânea inteiramente alienada entre os artefatos da sua própria fabricação. Dessa verdade extraíram, no entanto, soluções bem díspares: a democracia inspirada no modelo grego antigo, sonhada pela discípula de Heidegger; o pacifismo como única alternativa à guerra total, para o urbanista francês; e o profundo niilismo, no caso do teórico do simulacro universal.
Debord, por sua vez, buscou incansavelmente encontrar brechas de rebeldia vital entre os entediados contempladores das imagens políticas, produtivas e de lazer pelo globo afora. Foi o único dos citados a partir da herança de Marx, o Marx hegeliano, relido à luz de Lukács. Permaneceu, porém, estranho e marginal não só às correntes políticas da sua época (os comunistas do P.C.F, os trotskistas, os maoístas, os anarquistas), como também ao circuito acadêmico e editorial francês.
Criou a Internacional Situacionista, sempre composta de grupos minúsculos que, entretanto, provocou numerosos escândalos políticos, situações de caso pensado, antes, durante e depois de 1968. Fez questão de se manter no anonimato, mas foi recuperado, a posteriori, como profeta e artífice da rebelião estudantil daquele ano, ainda que nem estudante tivesse sido. Foi, essencialmente, um expoente da rebeldia boêmia que marcou época e deixou sérias sequelas numa cultura que separa vida e aparência.
Se estranho foi, mais estranho ainda será a exposição da sua paixão na sociedade do espetáculo universitário.
Se estranho foi, mais estranho ainda será a exposição da sua paixão na sociedade do espetáculo universitário.
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