O médico me deu alta. Outra vez eu ando pelo mundo. E para comemorar, nada de política, nada de filosofia, nada de história. Lento no espaço da velocidade, meu intróito é esta canção que eu nem imaginava num dueto tão belo. A vida é bela - disse aquele palhaço italiano. Como Adriana Calcanhoto e Renato Russo, prefiro dizer que é uma tela. Por onde passam cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores. Ou o escuro das cápsulas protetoras que impedem ouvir os gritos de fora. Então, eu também ando pelo mundo. Só que escrevendo. Dessa pequena tela, dessa grande janela, desse quadro. Desse esquadro, desse remoto controle. Para quem? - eu também pergunto. Nada disso importa pois eu ando. E ainda há alguma poesia neste canto que sigo e espalho na tela:
Eu ando pelo mundo divertindo gente/ Chorando ao telefone/ E vendo doer a fome/ Dos meninos que têm fome/ Pela janela do quarto/ Pela janela do carro/ Pela tela, Pela janela/ Quem é ela, quem é ela?/ Eu vejo tudo enquadrado/ Remoto controle/ Eu ando pelo mundo/ E os automóveis correm para quê?/ E as crianças, correm pra onde/ Transito entre dois lados/ De um lado, eu gosto de opostos/ Exponho o meu modo, me mostro/ Eu canto para quem?/ Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?/ Minha alegria, meu cansaço?/ Meu amor, cadê você?/ Eu acordei, não tem ninguém ao lado.
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