Há quem chame de capitalismo cultural o novo tipo de economia característico dos tempos presentes. O nome não é sem razão, sobretudo, para vários lugares da Europa. É o que predominará daqui em diante mundo afora?
Barcelona dá bem o exemplo disso. Dizem que a história da cidade se divide em dois momentos: antes e depois das Olimpíadas de 1992, idéia confirmada pelos próprios cidadãos dali.
Tendo se desenvolvido no século XX à sombra da indústria textil, que já dava sinais de esgotamento em fins da década de 1980, foi nos preparativos do grande evento esportivo que a urbe recebeu grandes investimentos que a projetariam para o futuro. Desde então considerada modelo para todas as cidades pretendentes a sediar os jogos, Barcelona teria mudado da água para o vinho.
Com um planejamento primoroso e grana nacional/internacional, os catalãos renovaram sua parte antiga e toda a área do porto. Além disso, construiram as grandes rondas viárias e expandiram a rede do metrô.
Ainda hoje os efeitos dessa modernização e do atento cuidado urbano estão presentes. Passou de cidade industrial a cidade de serviços com foco principal no turismo e no marketing cultural. E por isso extretamemente cara não só para turistas, como também para a população local, quanto mais para o contingente de imigrantes, alguns deles brasileiros que conheci de perto.
Os fogos de artifício do show de inauguração das Olimpíadas - que Freedy Mercury não chegou a ver, pois morrera um ano antes, deixando gravado em parceria com Monserratt o hino paragmático Barcelona, Barcelona - seriam desde então a marca apoteótica do novo capitalismo.
Sobreviverá esse modelo? A crescente crise econômica européia mostra que são necessárias novas alternativas. Apesar disso, diversas cidades da Catalunha e de outras partes da Espanha têm procurado explorar a culturalidade como base da economia. E não só no país das touradas. Os foguetes de pólvora se estendem pela França, pela Itália e agora também pela Turkya, que têm de se mostrar moderna para os tecnoculturais governos da União Européia. Istambul será a capital européia da cultura em 2010, buscando com isto angariar fundos para reengrenar a máquina dos negócios.
A expectativa é que no Brasil também possamos nos reanimar ainda mais com a grande bolha esportiva da década que começa. Tomara que, ao menos, sigamos o exemplo das cidades européias que sempre pensaram a infra-estrutura urbana como bem público (lembremos do excelente metrô parisiense).
O problema é que as reservas de culturalidade, embora profusas e propícias a numerosas recriações e reciclagens, podem perder seu potencial simulatório pela concorrência desenfreada dos mercados vizinhos. Os governantes-animadores culturais de todos os continentes também já aprenderam a receita de como faturar com os espetáculos.
Trata-se de uma economia efêmera por natureza. Nós, que ainda a temos (a natureza) para produzir coisas de comer, vestir, se abrigar, trabalhar e locomover, devemos estar sempre de sobreaviso no globo que nos cerca. Pois quando acabarem os recursos da superestrutura cultural, será para a nossa Amazônia, o nosso Pantanal e o nosso cerrado que a elite econômica e civilizadamente cultural olhará com cobiça.
O que não se deve esperar para o futuro. Assim como os missionários e os aventureiros do século XIX abriram (inocentemente) o caminho para o imperialismo, os olhos de inveja das ONGs internacionais, com seu discurso lacrimoso de crocodilos, preparam o terreno para a aterrisagem dos famintos de comida de fato, e não da comida culturalmente simulada.
E para a sua recepção triunfal ainda contarão com os aplausos da Marina da floresta e do Serra da selva de pedra. Que Lula permaneça na tocaia, mesmo que de vez em quando tenha de soltar alguns rojões e botar algum Freedy vivo para cantar na apoteose olímpica. Evento que pode ser estratégico para atrair capitais, mas será apenas de ocasião para nosso continente sustentado em enonomia real.
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