sábado, 30 de janeiro de 2010

De volta ao insan(t)o

O nome do cara é MD Magno, como gosta de ser chamado Magno Machado Dias, nascido em 1938. Tem todas as credenciais acadêmicas: Psicólogo Clínico, Mestre em Comunicação, Doutor em Letras e Pós-Doutor em Comunicação (UFRJ). Começou a delirar com Jacques Lacan, de quem foi discípulo e ex-analisando. Foi também professor-Assistente do Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII (Vincennes), então dirigido por Jacques Lacan, o que demonstra que as universidades francesas aproveitam bem as idéias dos loucos, ao contrário daqui. Fundou o Colégio Freudiano do Rio de Janeiro e a UnivercidadeDeDeus, em 1998, da qual é reitor. Criou o NOVAmente, movimento de revitalização da psicanálise. Assim como seu mestre, durante vinte e dois anos realizou seu Seminário de Psicanálise (encerrado em 1998).
Suas idéias são simples, embora muito complicadas. Parte do princípio de que "os movimentos da cultura, a velocidade da tecnologia, dos meios de comunicação, da internet, de tudo o que está acontecendo por aí, e o desvigoramento das idéias supostamente fundamentadas pelo mundo estão fazendo da nossa cabeça uma nave atectônica (...) Onde me assento? Onde quiser". Tira desse pressuposto a vontade de refundar a psicanálise, sem abandonar inteiramente as teorias e de Freud e Lacan. Delas descarta alguns conceitos, por exemplo o complexo de édipo.
Mas reformula outros, dando-lhes centralidade. É o caso de pulsão (trieb), que dizia respeito "às zonas erotizadas ou erógenas do corpo, com um circuito muito pequeno de partida e de chegada: tesões localizáveis por algo que alguma esfregação arruma, seja na boca ou alhures, e que tinham percurso, objeto, alvo, etc.". Magno amplia este conceito ao extremo, tornando o tesão um movimento que se observa aonde se vá na face do planeta. Para chegar a esta conclusão, recorre à física quântica, à música atonal, às artes não-clássicas, do mesmo modo que Freud recorreu aos mitos, à antropologia e à químico-física de sua época, ou Lacan à linguística e à filosofia.
Quem tiver paciência para seguir seu pensamento, basta assistir às gravações dos seminários em que ele explica os fundamentos do revirão, sua principal teoria (deixo abaixo uma mostra). Tal palavrão designa o funcionamento do psiquismo (o inconsciente), que só o animal humano possui. É o princípio de catoptria, pelo qual tudo o que vem à nossa mente propõe também o seu avesso, dai nosso perene desassossego. Vaca não tem, nem cachorro ou galinha. Apesar disso, temos freios que nos recalcam, especialmente nossa carcaça macaca. E por ai vai seu raciocício, seguindo a veia um tanto paródica, chanchadista, antropofágica, sem pudor ou respeito.
Gosto disso, ainda que o seu delírio beire o carnaval de Joazinho Trinta, personagem que, aliás, ele admira. E que o leva até a propor uma inusitada interpretação (metapsicológica, ao estilo freudiano) para a identidade brasileira, inclusive no seu aspecto político. Não tão inusitada assim. Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Darcy Ribeiro e os tropicalistas também já a haviam buscado. Segundo o psicanalista, o Brasil é um país maneiro (e não de origem barroca), e com este jeitinho particular (no bom sentido) tem o tesão de um governo diferocrático, e não copiadamente democrático.
Seria Lula o anjo anunciador, embora ele tenha pensado essas bobagens ainda nos tempos fhc? Talvez, pois sua idéia é a de que os brasileiros querem um governo jeitoso, malandro, bondoso, paidoso, mas nunca jesuítico ou positivístico. Com aquelas características chamadas de populistas e condenadas pelos intelectuais líbero-democráticos da USP, à frente o príncipe Fernando. 
Concordo em parte com tal asneira e foi por isso que lamentei a perda de oportunidade do terceiro mandato. Agora inês é morta. Voltaremos ao império religioso (ou positivista).

Um comentário:

  1. Celso meu caro,

    Estou há um tempo sem aparecer, mas entre delirírios e sonhos espreito por aqui. Muito divertido esse sr.
    É muito importante recolocar a questão do desejo - do prazer - e das pulsões: ou simplesmente do tesão nas nossas vidas. Mas como sabes, é preciso politizar isso também, pois, as instituições (Derrida escreve "ereções" em algum lugar) estão aí pra organizar esse carnaval. E a luta pela bagunça vem perdendo cada vez mais espaço para a "saúde"... Talvez, tenhamos o que fazer ainda.
    Abraços anisíacos

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