terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um gato na Barcelona dos anos 60

Aqui encerro este ciclo barcelonês com uma lembrança de Xavier Patricio Pérez Álvares (1951-1990), ou simplesmente Gato Pérez, que nasceu na Argentina, desembarcou na cidade em 1966 e ali participou da renovação da música catalã. Ficou conhecido como o criador da rumba catalana.
Cidade ainda pequena na fase final da ditadura franquista, Barcelona era o palco de uma explosão de liberdade, que se manifestava na experimentação artística, particularmente musical. O músico ali se estabeleceu e, junto com outros artistas de naturalidade variada, contribuiu para a ebulição cultural que perduraria até a metade da década de 1970.
A cultura era marcada, naqueles anos, pelos alentos utópicos que também sopravam noutros países. Barcelona vivia o cosmopolitismo e a boemia numa Espanha ainda fechada e retrógrada. Influências do jazz, do rock e dos ritmos latinos, caribenhos ou do norte da África estavam presentes. E tudo se fundia aos sons tradicionais espanhóis e catalães. Vem dessa época o mito da cidade aberta e tolerante, hoje explorado para turista ver e consumir.
A Rumba dels 60s, de Gato Pèrez, que deixo aqui como regalo de viagem, expressa bem tal sincretismo e o sonho de liberdade que seriam depois substituídos pela cultura de plástico dos nossos dias.
Atentem para a letra da canção em catalão - língua que transita entre o português e o espanhol.
Aumentem o som até o último indicador, conectem o notebook a um amplificador superpotente, abram as janelas e deixem esta música purificar e entorpecer o mundo. Que se fodam os vizinhos.




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